Search
Close this search box.

#Editorial: A quem servem a Câmara Municipal e o prefeito de Guarapuava?

O que nós pensamos | Reconheça-se que de início a presidência de Moraes deixou uma interrogação no ar: seria um jeito jovem de administrar ou apenas um boneco com um ventríloquo nos bastidores? Mesmo com a morte do ex-presidente da Casa e o voo do mais jovem presidente da história do Legislativo, de novo a velha Câmara não tem praticamente nada. Trocaram o treinador, mas o time continua o mesmo e com a mesma fama de sempre: puxadinho de Celso Góes

18/05/2023 – 07:34:33

Os editores

Já se vão cinco meses desde a ascensão de Pedro Moraes (Republicanos) como presidente da Câmara de Guarapuava, uma disputa que causou ‘rachas’ e até troca de acusações, com direito a exoneração de secretário para assumir a cadeira de vereador em um dia e pedido de licença no outro para retornar à pasta de origem. Moraes assumiu com uma tarefa quase impossível: dar uma nova cara para a Câmara Municipal. O problema é que por trás da nova cara ainda havia a influência dos tradicionais políticos, como o ex-presidente da Casa, vereador João Carlos Gonçalves (in memorian).

Se outrora costumavam criticar a Câmara por não expressar autonomia com Fernando Carli e Cesar Silvestri, sob o cetro de Celso Góes o cenário continua o mesmo, mas com uma ligeira e acentuada curva de oposição, que ainda é a esperança da população, com três professoras infernizando a vida de Celso Góes e de seus outros 17 colegas. Os demais dançam no ritmo da música que Celso Góes escolher tocar; se ele mandar sentar, os 17 dizem amém, tudo em troca de seus cargos comissionados ou de um reparo em uma boca de lobo ou um corte de grama em seu bairro ou distrito, tudo isso para mais tarde, em sessão, subir à tribuna da Casa e dizer: “quero agradecer ao secretário fulano ou secretária beltrana”. A decadência é moral.

O comportamento da Câmara de Guarapuava e de seus parlamentares demonstra que os edis ainda não aprenderam nada com o passado. Embora a população tenha parte na parcela de culpa pelas omissões da Câmara, é preciso lembrar aos 17 coligados da base de Góes que os tempos não são os mesmos. De todos os em exercício hoje, é bem provável que a metade não retorne em 2025, seja por descrédito com a população ou por novidades de candidatos no pleito de 2024 com o chamado voto de protesto. Se a Câmara quer recuperar a confiança da população, precisa agir como um Poder Legislativo de verdade, livre das mordaças de cargos e asfaltos de Celso Góes, que embora não seja um político habilidoso, conta com um grupo que entende de política. A Câmara, no momento, não serve ao povo, mas ao empresariado local e ao prefeito municipal.

São meses e meses, desde o ano passado, em que a Câmara tem reagido às pressões populares, seja na base do silêncio diante das críticas populares ou metendo os pés pelas mãos, como se diz popularmente, e agindo de maneira ainda mais esquisita, como cortina de fumaça para os atos, no mínimo, questionáveis perante a população de Guarapuava; isso quando não se aproveita de tragédias nacionais para ofertar pão e circo para uma população vulnerável e desesperada, como no caso dos ataques ao CMEI em Santa Catarina. Diversos pais e mães já relatam a ausência de profissionais que estavam de “vigias” nas escolas. Enquanto isso, na semana em que diversos cidadãos tomaram assento no plenário da casa para manifestar-se de forma totalmente legítima, a Câmara pareceu direcionar todos os seus esforços para o problema. Requerimentos e mais requerimentos foram discutidos e votados; os ânimos exaltados (e com razão) dos pais, foram atiçados por falas bonitas para transformar a escola em presídio, esquecendo-se que o problema não está na escola, mas fora dela. Passado um mês de todo o carnaval, apenas algumas reformas foram anunciadas e nada mais. As escolas continuam do mesmo jeito.

Já do outro lado, do ponto de vista da prefeitura, a única derrota que Celso Góes sofreu até agora foi dentro do orçamento, enquanto a Câmara tenta negociar o famoso cheque em branco barganhando com a instalação das chamadas emendas impositivas, que – em tese – colocariam um fim ao escambo entre vereadores e prefeito. Mas a derrota para Góes ainda está longe de acontecer. Ele ainda precisa se preocupar com o reajuste do piso dos professores e das alterações nos vencimentos de demais servidores da saúde, pois enquanto tentava alterar os valores dos farmacêuticos, os demais profissionais colocaram a faca no pescoço do Executivo e o fizeram recuar.

Mas nem tudo é choro perdido, pois há de se dar o braço a torcer para um aspecto positivo para a gestão de Góes, positivo ao menos para ele. Sua SECOM tem feito um trabalho de divulgação de obras e ações que realmente dão uma boa aparência, mas somente para quem está dentro da prefeitura e para o cordão dos puxa-sacos nas redes sociais. Nem mesmo a SECOM de Góes pode salvá-lo se sua postura política não mudar.

O dissabor nesse momento, entretanto, ocorre mais para o Legislativo do que para o Executivo. Pois, embora o Legislativo – constitucionalmente – possa dar as cartas e ditar o ritmo da dança de Celso Góes, faz justamente o contrário ao fechar os olhos para as atrocidades políticas cometidas pelo Prefeito, como liberar 600 mil reais dos recursos livres dos cofres públicos para a iniciativa privada. Senão bastasse, a prefeitura ainda inventou de liberar mais 90 mil para a mesma iniciativa privada fazer um tour por Portugal e Espanha. Colocando 11 vereadores no bolso, a prefeitura presenteou os contribuintes – com aval da Câmara Municipal – que irão bancar viagens à Europa, enquanto os playgrounds da cidade andam abandonados, enquanto as telas de proteção das Unidades Básicas de Saúde e dos Centros Municipais de Educação Infantil estão escancaradas, permitindo que qualquer um adentre nesses espaços.

Mas se até os 45 do segundo tempo a bancada de situação aparentava estar rumo a um empurrão em Celso Góes, Pedro Moraes foi habilidoso e virou a mesa a favor da Câmara. O que conseguiu em troca? Somente as quatro paredes do gabinete do prefeito sabem. Moraes conseguiu capitanear capital político, mostrando um legislativo de mentirinha, que tem pose de brigão, de que merece ser respeitado, mas ao virar a mesa e extrair tudo o que podia de Celso Góes, Pedro também entra em uma via de mão dupla: ao não trabalhar com Góes, também não pode esperar que o Chefe do Poder Executivo cumpra com suas promessas e, embora o peso da caneta do legislativo seja maior em relação ao Executivo, uma coisa é certa: nenhum vereador ou vereadora da base aliada tem peito para enfrentar Celso Góes.

O que Celso Góes e seus assessores ainda não se deram conta, é de que Góes não possui a habilidade de articulação que tem César Silvestri ou Fernando Carli, em tese os únicos dois prefeitos que merecem esse destaque; e outra coisa que também é clara como um copo de pinga, é que se chegar a hora, a Câmara não vai levantar um único dedo para apoiar Celso Góes, irão jogar o Chefe do Executivo para debaixo dos trilhos para salvarem a própria pele.

A próxima rodada está pronta: o discurso de Pedro Moraes durante audiência do Hospital Regional é de um candidato pronto para alçar voos maiores. É mais fácil lança-lo como vice ou até mesmo como prefeito para deixar Celso Góes em escanteio enquanto o grupo de César Silvestri se reorganiza, inclusive com mudança de partido, estando o mesmo de olho no MDB; mas atenção para o detalhe: César não é a cabeça nesta jogada, os holofotes devem se voltar para Silvestri mãe, que irá ser a peça fundamental na articulação futura. É bem provável uma frente formada por Cesar Silvestri, Cristina, Pedro e até mesmo Pablo Almeida, que segundo fontes da própria Secretaria de Educação e da Câmara, deve retornar à Câmara ao fim do ano de 2023. Não importa como o jogo irá terminar, mas o certo é que quando a música parar, é bem provável que Góes fique sem cadeira para sentar.

Leia Também