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“A economia não está ruim para todo mundo, depende de que lado você está”, avalia João Nieckars

Economista explica um panorama onde estatais e grandes empresas batem recordes de lucro e como isso afeta a inflação e as taxas de juros no país

Imagem: Pixabay

12/08/2022 – 10:07:03

Redação

“Meu dinheiro não dá para mais nada”. Você com certeza já ouviu – ou falou – essa frase nos últimos anos. Isto se deve ao fato de o poder de compra dos brasileiros ter diminuído, ou seja, o salário-mínimo não está acompanhando a inflação.

Poder de compra é a capacidade que o dinheiro tem de comprar uma determinada quantidade de produtos ou serviços. Esse conceito é usado para comparar o que você conseguia comprar no passado e no presente com o mesmo valor. Por exemplo, em 2014 eu comprava um litro de leite por R$ 2,10 e hoje o mesmo litro está sendo vendido por R$ 6,00. Estamos pagando bem mais pelo mesmo produto, isso é a perda do poder de compra”, explicou o economista, e advogado, João Nieckars.

Um relatório divulgado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), neste ano, indica que a inflação brasileira está entre as maiores do mundo. Apenas nos sete meses iniciais deste ano, a alta acumulada é de 4,77%.

A inflação é um aumento persistente no valor dos produtos e serviços e ela é caracterizada pela diminuição no poder de compra do dinheiro. Para saber quanto a inflação realmente afeta nossa vida, basta ao ir mercado toda semana, como eu faço, e você irá sentir no bolso que os preços estão paulatinamente subindo e o dinheiro ficando mais curto”, indicou Nieckars.

Segundo o economista, a medição da inflação no Brasil é feita por vários índices. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que representa a inflação oficial do Brasil, fechou 2021 em 10,06% – quase o dobre da média da última década, que foi de 5,71% .

“Se de um lado temos uma inflação grande, do outro o reajuste do salário-mínimo está suprimido, o que significar dizer que: as coisas estão ficando mais caras e o salário está diminuindo, ou seja, nosso poder de compra piorou e muito nos últimos anos”, alertou Nieckars.

Gráfico comparativo do aumento real do salário-mínimo. Produção: João Nieckars

A economia está ruim para todo mundo?

Apesar da crise econômica estar atingindo diretamente o bolso dos brasileiros, João Nieckars explica que ela não chega a todas as camadas e setores da sociedade. “Se você for um megaempresário, grande investidor da bolsa ou banqueiro, sem dúvida, está batendo palmas para a política econômica atual. O Ibovespa bateu recordes de movimentação especulativa, estamos exportando soja como nunca, o governo está loucamente concedendo benefícios fiscais a grandes empresas (351 bilhões em 2021) e a Petrobras bateu o recorde histórico de distribuição de lucros para acionistas (107 bilhões em 2021)”, declarou o economista.

De fato, em 2021, grandes empresas estatais brasileiras obtiveram recordes em lucro. Entre as cinco grandes companhias controladas pelo governo (BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica Eletrobras e Petrobras), ao menos três delas (BNDES, Banco do Brasil e Petrobras) tiveram o melhor resultado contábil de sua história. No entanto, esse lucro não significa uma melhora na situação econômica para a maior parte dos brasileiros, que acabam sofrendo com os espólios dessa economia.

“Do outro lado, se você é um empregado, agricultor familiar, pequeno empresário ou aposentado a situação é bem diferente. A dolarização dos combustíveis pela monopolista estatal, Petrobrás, chegou a aumentar em 75% o valor da gasolina de 2014 para 2021 (de R$ 4 para R$ 7) – e onde foi o lucro? Distribuído entre os acionistas da Petrobrás (107 bilhões em 2021)”, esclareceu Nieckars.

O economista também explicou que esse movimento pode ser observado no setor bancário. Segundo a XP Investimentos, os bancos tiveram, em 2021, o maior lucro histórico e registraram lucro líquido total de R$ 132 bilhões, 49% a mais do que em 2020 que foi de R$ 94 bilhões. “Do lado de cá, na vida real, o Brasil chegou a 15% de desempregados naquele mesmo ano de 2021 – a título comparativo, em 2014, com Dilma, este percentual era de 4,3%”, complementou Nieckars.

Para o economista, esse panorama é resultado da política adotada pelo Governo Federal, uma “escolha do presidente pelos super ricos em detrimento dos pobres e da classe média”.

A situação irá melhorar?

Na visão de João Nieckars, o próximo governo terá de “virar a chave” caso pretenda devolver o poder de compra dos brasileiros. “Em vez de conceder 351 bilhões em isenção fiscal as mega empresas, o governo deve realizar investimentos em infraestrutura e gerar postos de trabalho; em vez da Petrobras lucrar 106 bilhões e distribuir 105 bilhões aos acionistas, muitos deles de fora do país, baixamos o preço do combustível no mercado interno e investimos em refino que é nosso calcanhar de Aquiles”, defendeu o economista.

Para Nieckars, em política econômica tudo é uma questão de escolha. “Em vez de fazer motociata, o presidente pode tributar mais as instituições financeiras sobre o lucro de R$ 132 bilhões que tiveram e abrir o sistema bancário permitindo ingresso de mais players. Tudo é uma questão de escolha e a nossa, como cidadãos do Brasil real, será dia 2 de outubro”.

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