No último sábado (26) um temporal atingiu a cidade de Guarapuava. Além do granizo e do vento forte, outro grande problema, que parece ser recorrente no munícipio, foram os alagamentos. Bairros como o Vila Concórdia, Morro Alto e Centro foram os mais assolados pelo grande volume de água que não era absorvido pelo sistema de drenagem.
A consequência desse sistema deficiente é a inundação de ruas, casas e comércios, presentes nos pontos onde a água fica acumulada. “Prejudica bastante. É um sonho que a gente tem e quando vemos tudo debaixo da lama a gente fica desesperada”, afirma a empresária Fátima Grotti Fadel, proprietária da loja Carmen Steffens, localizada na rua Brigadeiro Rocha.
A via pública é um famoso ponto de alagamento em Guarapuava há cerca de quatro anos, quando moradores e comerciantes verificaram que o problema teve início. “No passado não acontecia isso. A gente teve um episódio, isso deve fazer uns 17 anos, que a água chegou próxima da porta, mas não aconteceu alagamento nenhum. Esses alagamentos estão ocorrendo faz uns quatro anos”, comenta a também empresária Neusa Fátima Previatti, que comanda a loja Expressiva há 25 anos no mesmo local.
E quando a água invade os estabelecimentos, os prejuízos são diversos. “Mercadoria graças a Deus nós não perdemos, mas tem a lavagem do tapete, dos móveis, inclusive o reparo de alguma mobília, e isso custa dinheiro”, pontua Fátima.
Já para Neusa, além das perdas materiais, que causam danos econômicos à empresa, também há a carga emocional. “Nesses últimos quatro anos a água já entrou aqui por quatro vezes. Já perdemos coisas, tem a questão dos móveis que sempre são danificados, nós já tivemos que trocar todo o piso da empresa e agora vamos ter que fazer reparos novamente. Além do nosso transtorno emocional, porque a cada chuva a gente fica apreensivo, tenso, sem saber se vamos passar por tudo isso novamente”, desabafa a empresária.
Preocupação que é compartilhada por vizinhos, como a Aurora Gaspar Santos, que tem 84 anos e reside no mesmo terreno na rua Brigadeiro Rocha há 65 anos. No sábado (26), enquanto se recuperava de uma cirurgia facial, a aposentada assistiu indefesa enquanto enxurradas de água e esgoto adentravam sua residência.
“Meus móveis estragaram, eu tenho carpete no chão e ele encharcou. Eu com essa idade ter que passar por todo esse transtorno é complicado”, explica Aurora.
Com cerca de 20cm de água dentro da residência, a idosa precisou ser removida do imóvel com a ajuda de familiares e vizinhos. “Ela foi retirada no colo aqui de dentro de casa porque, mesmo havendo bombeiros no estabelecimento que fica na esquina, eles alegaram que nós deveríamos esperar porque eles estavam atendendo a loja. Foi duro ver a minha mãe sair de casa sendo carregada no colo”, fala emocionada Sônia Regina Santos, uma das filhas de Aurora.
Temendo novos problemas em meio a incerteza de novos episódios como esse, a solução encontrada pela família foi vender a propriedade onde Aurora construiu sua vida. “O que nos preocupa é que a situação de chuvas não para. A minha mãe não vai ter segurança nenhuma, eu mesma não me sinto segura em deixar ela aqui nessa casa. Porque há o medo de cada vez que vem uma chuva você não saber o que vai acontecer. Vai continuar isso aqui? Até quando? Vão arrumar?” questiona Marilene Gaspar Santos, filha da aposentada.
A opção entristece Aurora, mas parece ser a única saída para o problema, uma vez que, além dos problemas estruturais, o retorno de resíduos, provenientes da rede de esgoto, podem causar graves problemas de saúde.
“Antes era só a água, depois que mexeram na rua dizendo que iria melhorar, começou a entrar esgoto junto com a enchente. No sábado havia fezes e ratos mortos dentro da minha casa. Agora depois de 65 anos eu vou ter que dar um jeito de vender aqui e ir embora, por que como eu vou ficar desse jeito?”, finaliza a idosa.
O descaso do poder público
Os residentes da rua Brigadeiro Rocha atestam que os alagamentos começaram há aproximadamente quatro anos e tem piorado a cada nova “melhoria” que é feita no local. “Alguns meses atrás colocaram uma máquina que foi mexido em algumas coisas, mas que realmente não solucionou o problema. A gente até acreditou que o que eles estavam fazendo, porque a gente é leigo, iria resolver a situação, mas infelizmente o processo que foi feito foi inútil, realmente não ajudou em nada”, afirma a empresária Neusa Previatti.
O poder público foi procurado pelos moradores e comerciantes em diversas ocasiões. Foram realizados abaixo assinados e protocolos na prefeitura em relação ao problema, que permanece sem solução.
“Já foi cobrado do poder público, foi feito um abaixo assinado no ano anterior, porque já são quatro anos que ocorre isso. Procuramos também os órgãos responsáveis para solucionar o problema, mas nada foi resolvido”, destaca Fátima Fadel.
O que resta aos residentes é aguardar a disposição e resolução dos órgãos competentes, com a incerteza do que irá acontecer na próxima vez que houver um grande volume de chuvas na cidade.
Em nota, a prefeitura municipal afirmou que “dentro do programa de desobstrução das galerias, a Secretaria de Obras está dando prioridade para a resolução do problema na região central da cidade, especificamente neste ponto da Rua Brigadeiro Rocha. Amanhã (30), um caminhão vai realizar o trabalho nas galerias das imediações, que estão relacionadas com o problema”.