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04/05/2020 – 16:50:04
Redação
Além de ajudar pequenos empresários durante o período de pandemia, recorrer ao comércio da vizinhança é uma forma de conter a circulação intensa de pessoas nos grandes centros quando há a necessidade de realizar uma compra presencial.
Neste momento, onde a economia mundial é afetada fortemente pela Covid-19, há um apelo para que os consumidores priorizem o comércio e produtos locais. Em Guarapuava, a ACIG (Associação Comercial e Empresarial de Guarapuava) lançou a campanha #PrefiraGuarapuava como uma forma de estimular as compras em empresas do município, com o objetivo de fortalecer os negócios locais durante este momento de instabilidade econômica.
Para saber como funciona esse fortalecimento o iPolítica conversou com o advogado e economista João Nieckars, que esclareceu alguns pontos sobre a economia de Guarapuava.
iP: Como funciona a economia de Guarapuava?
JN: A economia de Guarapuava é grandemente baseada no setor terciário, ou seja, no comércio e prestação de serviços. Economias mais desenvolvidas tendem a ter uma presença maior da indústria, que paga salários muito melhores e contribui mais com a arrecadação de impostos, situação que em Guarapuava não observamos, já que nossa planta industrial é pequena e o poder público local não tem feito nada para mudar essa situação.
Independente da atividade, do tamanho ou da origem, todas as empresas e os autônomos que aqui trabalham fazem parte da economia local e contribuem com ela. Mas é interessante observar que, como a esmagadora parcela dos guarapuavanos (65%) tira o sustento do comércio ou da prestação de serviços, o impacto tanto do fechamento do comércio como da crise econômica é muito grande para a população e para o próprio microssistema econômico, que torna-se frágil por ser muito dependente de um setor só (no nosso caso, do terciário).
iP: O crescimento dos negócios locais impacta toda a população de uma cidade? De que maneira?
JN: Crescimento econômico gera mais empregos, portanto mais gente com renda e, assim, dispostos a gastar mais e a sanar suas necessidades, movimentando a economia como um todo. Crescimento da economia também implica em mais arrecadação tributária, tanto pelo incremento da produção como pelo do consumo, o que permite ao poder público ter mais recursos para aplicação em saúde, educação, segurança, infraestrutura etc.
Uma economia com crescimento saudável e constante cria um círculo virtuoso de aprimoramento da produtividade, renda e consumo.
Pense em uma unidade familiar cuja apenas a mãe esteja trabalhando e, de repente, por uma melhora na economia, o pai encontra colocação no mercado de trabalho. Com as duas rendas somadas esta família passará a consumir mais, ter acesso a melhores serviços e produtos, investir mais em educação, lazer, cultura e quiçá conseguir ter uma poupança para investimentos futuros. a melhoria da renda desse grupo familiar não vai apenas beneficiar os membros, mas também o mercado onde adquirem seu rancho mensal, eventualmente as lojas de roupa, calçados etc. Talvez os filhos deste casal passem a usufruir de uma escola particular e de cursos extracurriculares o que vai garantir incremento de renda para todo um círculo de fornecedores que, por sua vez, impactará positivamente em outros círculos.
Em escala bem maior, é o que ocorre com a economia local quando há crescimento e expansão da renda.
iP: O que podemos fazer, enquanto consumidores, para estimular o crescimento dos empreendimentos locais?
JN: Como nossa economia local é extremamente depende do comércio e da prestação de serviços, em termos imediatos e em especial para amenizar a crise, quanto mais o dinheiro circular para dentro da nossa cidade, mais rapidamente sentiremos a estabilização econômica. Optar pela compra de itens de empresas locais ao invés de aquisição de empresas de fora que apenas remetem os produtos para cá por Correios ou transportadora, privilegiar compra direta dos pequenos produtores.
Sabemos que é impossível, doutro lado, ficarmos isolados apenas com o que temos dentro dos limites da nossa cidade. Necessidades variadas, melhores preços e qualidade são fatores que impactam na escolha do consumidor. É nesse ponto que o empresariado local deve agir para nivelar a qualidade e o custo de seus itens as melhores práticas de mercado e, para isso, um forte apoio deve vir do poder público, através do auxílios aos pequenos produtores e empresários (inclusive através das licitações), incentivos tributários e, muito especialmente, trabalhando para o crescimento e fortalecimento da indústria local (incentivos fiscais, criação de bairros industriais, melhoria de infraestrutura etc.).