23/04/2022 – 07:12:43
André Luís A. Silva
O Dia Mundial do Livro tem origem na Espanha, na década de 1920, quando passou a ser celebrado todos os anos no dia 23 de abril, data de falecimento do poeta e dramaturgo espanhol, Miguel de Cervantes (1547 – 1616). Anos mais tarde, em 1995, a data foi adotada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que oficializou a data no intuito de estimular a leitura, a venda dos livros e a garantia do direito autoral.
Os primeiros livros surgiram paralelamente com o surgimento da escrita Cuneiforme, desenvolvida pelos Sumérios, na Mesopotâmia, cerca de 3200 a.C. Seu nome faz referência à cunha, objeto utilizado para gravar os escritos em tabuletas de argila, que eram tostadas no fogo para aumentar a durabilidade dos registros. Porém, escrever e transportar um livro nessa época era algo difícil, visto que as tabuletas de argila eram grandes e pesadas. Mas os egípcios resolveram este problema alguns séculos mais tarde, quando passaram a escrever seus Hieróglifos em folhas de papiro, uma planta originária do norte da África. Os gregos também pensaram em uma solução para deixar os livros mais leves. Então, desenvolveram o pergaminho, feito de couro de animais. Com efeito, o papel no formato próximo do que conhecemos hoje, produzido através da celulose, foi inventado na China no século II, e só chegou na Europa no século XII, trazido por mercadores.
De acordo com a socióloga Ruth Rocha, até o século XV, os livros eram produzidos de forma manuscrita e artesanal, apenas a edição de uma única obra dependia de um trabalho que durava meses, na grande maioria das vezes, era realizado pelos monges nos monastérios. Mas essa situação mudou radicalmente quando o alemão Johannes Gutemberg inventou a imprensa, ou, simplesmente, prensa. Uma máquina que possuía vários caracteres feitos de chumbo, postos sobre uma prancha e abastecidos com tinta. Esta invenção permitiu que, em apenas algumas horas, um único molde poderia ser capaz de imprimir várias cópias de um texto, documento, folhetos, etc. Também, a produção de livros em massa que deixavam de ser elaborados de forma artesanal e manual, para se tornar um processo mecanizado e ágil, como nunca visto antes na história. A primeira obra produzida neste formato foi a bíblia e, desde então, os livros se popularizaram por toda Europa já no século seguinte.
No Brasil, até 1808, a circulação e comercialização de livros era proibida, visto que a coroa portuguesa não tinha interesse em desenvolver intelectualmente a colônia. Situação que mudou radicalmente com a chegada da Família Real. Dois anos mais tarde, em 1810, o rei D. João VI autoriza a criação da Biblioteca Real, (atual Biblioteca Nacional), na cidade do Rio de Janeiro, no intuito de estimular a leitura, a produção de novos livros, assegurar a produção intelectual nacional e a preservação de obras raras. O acervo inicial da biblioteca contava com cerca de 60 mil títulos, grande parte trazido de Lisboa. A partir de 1814, o acesso foi liberado ao público em geral. A Biblioteca Nacional é oficialmente a primeira biblioteca pública do Brasil, e atualmente possui mais de 9 milhões de itens para consulta.
Passados mais de dois séculos desde a criação da Biblioteca Nacional, de acordo com os dados do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), hoje, o Brasil dispõe de 6.057 bibliotecas públicas, espalhadas por 95% dos municípios brasileiros. Isto quer dizer que o Brasil tem uma biblioteca pública para cada 35 mil habitantes, aproximadamente. Para níveis de comparação, no México (outro país emergente), existe uma biblioteca pública para cerca de 18 mil habitantes, aproximadamente. Segundo especialistas, apesar do número expressivo de bibliotecas públicas no Brasil e dos avanços conquistados nas últimas décadas, a quantidade ainda é insuficiente e não atende toda a população. O principal problema é que 1/3 destas bibliotecas estão localizadas na região sudeste, enquanto que as demais regiões, norte e centro-oeste, principalmente, possuem uma quantidade ínfima de bibliotecas públicas.
O mesmo problema de insuficiência também passa pela quantidade de livrarias. Segundo o levantamento de dados da Associação Nacional de Livrarias (ANL), no ano de 2021, o Brasil possuía 2.200 livrarias distribuídas em apenas 17% dos municípios do país. O mesmo instituto também mostra que, em 2014, o número de livrarias era maior, cerca de 3.100. Com efeito, os números nos revelam que em sete anos o Brasil fechou 28,5% de suas livrarias. O que explica essa queda? Talvez a resposta esteja no caos político e econômico que abraçou nosso país desde as manifestações de junho de 2013. Também, é importante mencionar a popularização da internet neste período que, de carona, trouxe o acesso ágil e fácil aos livros em formato digital, bem como a opção de compra dos e-books, afastando o consumidor dos livros físicos.
É bem provável que os e-books se tornem a nova tendência no formato de livro nos próximos anos, e as pessoas passem a ler através da tela de algum aparelho eletrônico, principalmente no Brasil, no qual, os livros físicos possuem um alto custo financeiro, mesmo com a isenção de impostos, uma conquista desde a Constituição de 1946, projeto incentivado pelo escritor e deputado Constituinte, Jorge Amado (1912 – 2001). No ano de 2004, os livros também se tornaram imunes a algumas contribuições sociais, no intuito de expandir ainda mais sua circulação e ampliar seu acesso.
Ainda assim, pesquisas mostram que somos um povo que lê pouco. De acordo com o índice NOP World, de 2021, o brasileiro dedica, em média, apenas 5,2 horas na semana para realizar leituras, menos que a média mundial, que é de 6,5 horas. Já os indianos, líderes do ranking, gastam 10,7 horas de seu tempo com leituras semanais. Estes números colocam o Brasil no 27º lugar no ranking, algumas posições atrás da nossa vizinha, a Argentina.
Talvez o alto investimento em educação básica, que a Índia vem realizando nas últimas décadas, explique o motivo dos indianos lerem mais que o dobro de horas do que nós brasileiros. Ler não é um costume da nossa cultura, infelizmente, mas podemos mudar esta realidade se olharmos para as futuras gerações. De fato, é um consenso na pedagogia afirmar que é durante a infância que se desenvolve o hábito pela leitura, ao mesmo tempo que a escola é o ambiente mais propício para realizar seu estímulo. A prática da leitura exercita o cérebro, melhora a criatividade, amplia o vocabulário e a linguagem, desenvolve o pensamento crítico, aumenta o conhecimento, a autoestima e a capacidade de concentração, reduz o estresse, combate a ignorância, ensina ortografia, desenvolve a empatia e apresenta outras perspectivas de mundo. Vale lembrar que os benefícios da leitura não são uma exclusividade apenas de crianças e jovens, mas para todos aqueles que pretendem aprender coisas novas, ter ideias, inspiração, prazer e felicidade. Os livros são o nosso alimento para a mente, e a leitura um exercício de liberdade.