OPINIÃO

Assista ao BBB, o que destrói o país é a incompetência do governo

Foto: Freepik

20/01/2022 – 15:43:23

Luiz Felipe

Chega janeiro e começam as discussões infernais sobre assistir ou não ao reality show mais famoso do mundo e que tem uma versão bem brasileira: o Big Brother. Como um programa de entretenimento e um produto comercial, o programa atrai grande parte da população e aqui não se trata de dizer se o programa é bom ou ruim, mas sim do quanto o debate sobre assistir BBB ou ler um livro já se tornou algo cansativo, tá na hora de virar o disco.

O ser humano chegou ao nível máximo de sua estupidez de achar que todos os problemas do país seriam resolvidos se o povo não assistisse Big Brother Brasil. Eu não assisto porque não gosto, mas em outros momentos já fui um espectador da atração. Ler um livro não é sinônimo para um ser civilizado, culto, o que as pessoas tentam pintar com a expressão “vá ler um livro”, é a imposição de uma cultura elitizada, que não assiste TV, mas que vai a concertos de música, que vai ao teatro, a galerias de arte, esse é o tipo de cultura que os falsos moralistas ou intelectuais de boteco querem imaginar que existe no Brasil. Ora, em um país onde o acesso aos livros está se tornando cada vez mais caro e mais da metade da população não tem uma renda decente para viver dignamente, é um pouco contraditório falar em ler um livro em vez de assistir TV. E ademais, ler um livro não é garantia de nada, você poder ser a pessoa que mais leu livros na vida, mas no fim pode ser também apenas um idiota com boas referências e nada mais.

A Cultura não pode ser taxada, cultura é cultura e, o BBB, hoje faz parte da cultura do povo brasileiro, o nosso povo; está no nosso cotidiano assim como tantas outras coisas. A “gourmetização” é o que tem atrapalhado esse país em diversos momentos, é a famosa síndrome de vira-lata, a mania de achar que o que existe lá fora é sempre melhor do que aquilo que temos em nosso país, é o equívoco em pensar que os países de primeiro mundo são de primeiro mundo porque leram livros no lugar de assistir aos programas da TV aberta. Pois bem, lamento decepcioná-los, mas os países de primeiro mundo estão nesta posição porque existiram dois momentos na história chamados de Colonialismo (século XIV) e o Neocolonialismo (século XIX). O que existe de referência na cultura europeia hoje, por exemplo, vem de muitos outros países e povos que foram saqueados por séculos e séculos com a mão pesada das monarquias britânica e portuguesa, principalmente. Alguém disse uma vez que só existem pirâmides no Egito porque elas são muito pesadas para levar para algum museu britânico.

Os problemas do Brasil são muito piores, vai da incompetência do governo Bolsonaro para absolutamente tudo até o brasileiro que precisa roubar um quilo de carne para não ver seu filho passar fome. Esse mesmo brasileiro é apedrejado, é linchado em praça pública, porque o bandido bom é bandido morto para essa tropa. Mas o mesmo que diz que diz que bandido bom é bandido morto, é aquele que seria morto de primeira se isso fosse lei no país. Como bem lembrou Alexandre Morais da Rosa, “bandido bom é bandido morto” diz o cidadão no Facebook ou Twitter, mas ele esquece que aos olhos da lei ele também é um criminoso quando faz download daquele filme que só tem nos cinemas e ainda não chegou no streaming (antigamente era ‘locadora’ de VHS ou DVD) e viola direitos autorais (artigo 184 do Código Penal), quando dá bebidas alcoólicas a menores naquela festinha, é encrenca também (artigo 243 ECA) ou dá um baseadinho para o colega dar aquele tapa e ficar doidão na festa ou na faculdade (artigo 33, §3º da Lei 11.343/2006) e que depois de beber como se não houvesse amanhã, pega o carro e vai para a casa porque ‘aguenta dirigir’ (artigo 306 do CTB). Na manhã seguinte, esse cidadão de bem acorda com o canto do canário belga que ele tem na gaiola e que comprou sem licença, de criadouro clandestino (artigo 29 da Lei 9.605/1998 – Lei de Crimes Ambientais). Para finalizar, ele resolve pegar um cinema com a namorada, mas como já é formado e ainda guarda a carteirinha da faculdade, adultera a data de validade para pagar meia entrada (artigo 299 do CP) e vai ver um filme ao estilo Rambo ou Duro de Matar e sai mais macho ainda do cinema, postando no Facebook que bandido tem que morrer mesmo, tem que metralhar (art. 286 do CP).

Mas para quem comete essa enorme lista de delitos acima, o problema do Brasil é o BBB e o Carnaval. Para nós que somos de uma região onde o carnaval não é tão popular assim, fica um pouco difícil imaginar como é essa época do ano, mas em cidades do Sudeste, Nordeste e Norte, o Carnaval é um evento que está totalmente enraizado na cultura local e ao resto do país, sobram as mazelas de disseminar fake news porque não sabem se divertir, dizendo que enquanto tem carnaval no Rio ou no Nordeste, o resto do país trabalha. Aqui no Sul o Carnaval pode não ser tão popular, mas o mesmo sujeito que ataca o carnaval ou a festa que dura 10 dias lá no Nordeste, é o mesmo cara que enche a cara de cerveja barata em festival agro, se veste de peão texano, bota um feno na boca, vai assistir desfile de trator e depois de bêbado vai chorar pela ex assistindo show de Bruno e Marrone ou qualquer outra dupla sertaneja que serve de alento aos cornos (quem se sentiu tocado que vista o chapéu de touro).

Nosso Brasil segue sofrendo a cada dia, nosso povo segue na desgraça de ter que se expor diariamente diante de uma pandemia que segue comendo solta, ceifando vidas e vidas todos os dias, se apertando em trens e metrôs como sardinha em lata, tudo isso para ganhar a miséria de um salário mínimo e à noite, no intervalo da sua novela ou esperando pelo BBB, ter que escutar o presidente da República dizer absurdos e mais absurdos. Já dizia Blindagem, banda orgulho do Paraná: “Meu carro tá fodido/ o salário tá fodido/ o Congresso tá fodido e o povo também tá fodido/ Até meu vizinho, que é doutor, tá fodido!

Aos brasileiros que seguem firmes: um dia tudo muda, pois já nos dizia Cássia Eller que tudo passa, tomando chá ou cachaça. Eu sempre detestei chá, tomem uma e vejam o BBB. Aquele abraço para quem fica, meu irmão.


por:

Luiz Felipe de Lima

• Historiador •

Formado pela Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro;

Professor de História e Sociologia;

Pesquisador.

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