Casa da Mãe Joana…não mais ou será que ainda é?

Foto: Divulgação/Ascom Câmara Municipal

28/04/2022 – 08:18:41

Coletivo Veio do Saco

Anteontem publicamos aqui sobre o verdadeiro espetáculo que ocorreu na sessão de segunda-feira (25) na Câmara Municipal. Mal imaginávamos que a sessão de terça-feira (26) seria ainda mais bizarra, algo que faz a gente se perguntar: como ainda votam em umas figuras dessas?

Gilson da Ambulância (SD) não tinha nem terminado de ler o expediente e a voz de Elcio Melhem (PODE) já ecoava pelo plenário da Casa. Paulo Lima (PODE) que estava presidindo a sessão, deu a palavra ao colega vereador que pediu Pela Ordem. “Senhor presidente, na qualidade de membro da bancada de sustentação do senhor prefeito na Casa, nós queremos fazer um pedido à presidência, porque já faz alguns dias que aqui chegaram alguns projetos do Executivo, projetos relevantes para o município de Guarapuava e em caráter de urgência. E o que nos consta nem lidos foram ou nem pareceres foram emitidos, então nós gostaríamos de clamar à presidência para que esses projetos ao menos fosse dado andamento na casa […]”.

O vereador Paulo Lima respondeu ao vereador Elcio que a presidência tinha conhecimento dos projetos protocolados no dia anterior, um total de nove itens. O vereador também informou que os projetos estavam em análise no jurídico da Casa. Nesse embalo, o vereador e presidente da Casa, João Napoleão, saiu da antessala e retornou para a mesa para presidir a sessão e já estava com um ar alterado. Quase que expulsando o colega vereador Paulo Lima de sua cadeira, Napoleão retomou a presidência e de imediato respondeu ao vereador Élcio Melhem de uma maneira rude, grosseira e totalmente desnecessária, um verdadeiro show de horrores que tinha como plateia estudantes, funcionários e professores do Centro Universitário Campo Real e que acabaram por presenciar todo o desequilíbrio do Poder Legislativo.

Já com a voz alterada, Napoleão disparou: “Quero dizer à vossa excelência que aqui nós trabalhamos em cima do regimento. Se não foi lido é porque não chegou a hora, a hora que chegar nós vamos ler”. Aumentando ainda mais a voz, ele continua: “E eu tenho essa prerrogativa de ficar comigo e eu ler, chegou ontem. Eu vou ler”. Melhem rebateu dizendo que o vereador tem o direito de questionar e Napoleão replicou dizendo que ele tem o direito de responder. Em um tom civilizado e educado, o vereador Elcio Melhem, que está dando um show de decoro parlamentar e postura nas sessões, disse ao presidente que não via motivos para ele estar estressado e então o presidente respondeu, seja num ato falho ou não: “Aqui não é MAIS a casa da mãe Joana”. Mais estressado e gritando, o presidente disse que ninguém iria vencer nada no grito.

Quem estava presente no plenário da Casa ficou visivelmente desconfortável pelo comportamento descompensado do presidente. Fontes ouvidas pela coluna revelaram que o presidente já havia se estressado anteriormente por conta da pressão da bancada em cima da formação do Conselho de Ética da Câmara e o questionamento feito pelo vereador Elcio Melhem deixou o homem ainda mais estressado.

Depois de alguns minutos, o vereador Elcio foi à tribuna para falar no horário das lideranças de bancada da Casa e aproveitou o horário para rebater, com a classe de quem está sustentando o décimo mandato, à fala do presidente. “Quero dizer que nesta Casa nenhum vereador, nenhuma vereadora veio para cá sem os votos de suplentes”. Melhem respondia à fala arrogante do presidente que disse ao vereador que estava falando com os vereadores titulares e não com o segundo suplente. Após a saída de Danilo Dominico, que foi nomeado ouvidor do Município, Elcio Melhem assumiu a cadeira e tornou-se o 21º vereador da Casa. E o lendário legislador continuou: “Quando falaram de que não fala com segundo suplente, isso não é demérito pra mim, porque aqui não existe suplente, não existe titular, aqui existe um legislador municipal, existem vereadores e vereadoras, posso ter assumido uma vaga como segundo suplente e nada disso me afeta, muito pelo contrário, me honra, porque se não tivesse a minha saudosa esposa acometida de doença e não tivesse a pandemia, com certeza aqui eu estaria não como suplente. Mas dizer também que ao longo dos meus 40 anos nesta casa jamais desonrei, jamais transformei esse Poder em Casa da Mãe Joana ou casa da mãe de quem quer que seja, porque esta Casa é a Casa de Guarapuava”, disse o vereador.

Depois, ao estilo volta o cão arrependido (quem assistiu Chaves, vai entender) o presidente percebeu que sua fala excedeu os limites da decência e do decoro que é regra na Casa e disse que extrapolou ao usar o termo “casa da mãe Joana” e disse que jamais envergonhou o Poder Legislativo, mas que ajudou a proteger a imagem da Câmara e em seguida pediu desculpas aos professores, estudantes e funcionários da Campo Real que assistiram tudo de camarote.

Acerca do regime de urgência dos projetos, entretanto, a fala do presidente não foi muito convincente, pois – segundo ele – é preciso atenção ao ler os projetos e é necessário um tempo para avaliar as propostas para que os projetos não sejam votados de forma errada. Isso faria todo o sentido se isso fosse regra na casa, mas nunca foi; preciso lembrar aos senhores e as senhoras que me leem, que antes da formação do Clube dos 11, quando o líder do governo ainda era o vereador Márcio Carneiro (CDN), era mais do que comum a oposição se manifestar contrariamente aos projetos que chegavam em cima do laço, no afogadilho, como descreveu o presidente. Inúmeras vezes as vereadoras de oposição alertaram o povo durante a discussão das propostas; em muitos casos os projetos eram protocolados apenas trinta minutos antes do início da sessão e a vontade do Poder Executivo era feita e tudo era votado conforme as ordens do prefeito Celso Góes.

E por falar em Celso Góes, no momento do pronunciamento do vereador João Napoleão, as orelhas do prefeito deveriam estar ardendo, pois o presidente da Casa não poupou críticas ao Chefe do Executivo sobre a troca da liderança do governo: “O prefeito também tem que avisar que ele já tem novo líder, né? Mas ele que mande pra mim, que o presidente até dia 31 de dezembro sou eu. Ele que mande pra mim indicando quem é o líder que vai defender ele”.

Os dias de abril andam nebulosos para Celso Góes dentro do Poder Legislativo. Em poucos dias, o prefeito viu sua bancada rachar, está sendo criticado pelos aliados e corre o risco de perder o apoio da presidência da Casa. Essa é a primeira hipótese. A segunda, é que tudo não passa de um grande teatro e o tal clube dos 11 continua, na verdade, subordinado ao prefeito e estão com o teatrinho para enganar a população, fingindo que se importam com algo, mas na verdade só querem saber da reeleição e mais nada. Enquanto a Câmara brinca de House of Cards com o Poder Executivo, uma criança de um ano morreu dentro de uma unidade de saúde. A saúde de Guarapuava está ótima!

Coletivo Veio do Saco

O Coletivo Veio do Saco foi formado por integrantes da sociedade civil que acompanham, religiosamente, as sessões da Câmara Municipal de Guarapuava, com o intuito de fiscalizar as ações do Poder Legislativo. Essa figura mitológica das lendas guarapuavanas, que sempre assustou crianças mal criadas, a partir de agora vai assombrar os políticos também.