Foto: Camila Figueiredo / Unsplash
29/09/2023 – 17:54:46
André Luís A. Silva
O início do povoamento de Curitiba está ligado ao período de exploração de ouro no Brasil, ainda na primeira parte do século XVII. Nesta época, uma expedição de bandeirantes que procuravam por ouro de aluvião no litoral paranaense subiu a Serra do Mar em busca de riquezas e formaram as primeiras comunidades na região próxima ao rio Atuba, no final da década de 1640. Alguns poucos anos depois, migraram para a região onde atualmente é a praça Tiradentes, considerado o marco inicial da cidade, pois o local supria melhor as necessidades do povoamento. A comunidade cresceu, embora não tenha progredido como um centro de mineração, em 1661, o local foi nomeado de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba.
Foi justamente pela sua abundância de recursos que a região era chamada de Coré+Tyba pelos indígenas Guarani, que significa terra de muito pinhão ou pinheirame, devido à localidade ter uma grande concentração de araucárias. A área também era ocupada pelos Kaingang, estes mais afastados, ao leste. De acordo com os pesquisadores Claudia Parellada e José Carvalho, o fluxo de nativos era grande no local onde veio a surgir o município de Curitiba, e as primeiras décadas de povoamento foram marcadas por intensos conflitos com comunidades indígenas que não aceitavam a invasão de seus territórios. Muitos nativos acabaram fugindo para terras mais distantes, e os que resistiram foram escravizados e/ou mortos nos conflitos, bem como por infecções virais ou bacterianas, trazidas pelos portugueses durante a fase inicial do povoamento.
Em 29 de março de 1693, o povoado de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba foi promovido à condição de Vila, momento em que foi realizada a primeira eleição para a Câmara de Vereadores, assim como exigiam as ordenações portuguesas na época. No ano de 1721, a localidade passou a se chamar apenas Vila de Curitiba.
De acordo com o historiador e professor de história da UFPR, Carlos Alberto Lima, no século XVIII, chegaram os primeiros escravos na região que, em sua maioria, prestavam serviços domésticos, tendo em vista que a Vila de Curitiba não possuía grandes áreas de plantações que exigissem mão-de-obra escrava em larga escala, bem como no Rio de Janeiro e no Nordeste brasileiro. Todavia, mesmo a Vila de Curitiba sendo um local de pequena escravaria, não se pode dizer que a escravidão foi branda ou que não houveram formas de resistência. A tortura, as humilhações, os castigos, a ausência de direitos e, até mesmo, a pena de morte faziam parte do cotidiano dos escravizados, assim como em qualquer lugar do Brasil onde existiu escravidão. Durante praticamente todo o século XVIII, a população da Vila de Curitiba foi composta por portugueses, espanhóis, indígenas e negros, e a principal atividade econômica era a pecuária e o comércio de bovinos, muito incentivado pelas expedições de tropeiros que partiam do Rio Grande do Sul, passavam pela região e seguiam até São Paulo.
Durante muito tempo, a historiografia desconsiderou a presença das comunidades indígenas no Primeiro Planalto, que eram os verdadeiros donos da terra e habitavam a região sem serem incomodados. Do mesmo modo, a escravidão do povo negro é um traço da história de Curitiba que só nas últimas décadas vem sendo abordada a fundo. De fato, o extermínio de indígenas e a escravidão são feridas abertas na história da capital paranaense, são vozes que, por muito tempo, a historiografia silenciou e creditou apenas aos europeus o início do povoamento de Curitiba. Ainda hoje, a cultura negra e indígena são esquecidas na cidade e/ou pouco valorizadas. Em contrapartida, dezenas de ruas e monumentos espalhados pela capital homenageiam e preservam viva a memória dos colonizadores.
A extração de madeira e a comercialização de erva-mate impulsionaram a economia da Vila de Curitiba no início do século XIX, quando chegaram as primeiras imigrações europeias. A partir do ano de 1830, instalaram-se na Vila de Curitiba algumas colônias de Alemães, Italianos, Poloneses e Ucranianos que se dedicaram, principalmente, aos trabalhos ligados à agricultura. Com a chegada de imigrantes a população aumentou e, no ano de 1842, a Vila de Curitiba foi promovida à condição de Cidade. Alguns dos atuais bairros de Curitiba nasceram nesta época, oriundos destes núcleos coloniais de imigrantes.
Em 19 de dezembro de 1853, quando houve a emancipação política da Província do Paraná, Curitiba se tornou a capital da província no ano seguinte. Após a emancipação, os presidentes que assumiram o governo da província passaram a incentivar a imigração europeia e asiática na região, e o município experimentou seu primeiro surto progressista. Devido ao acelerado crescimento populacional e econômico da capital, no começo do ano de 1885, foi inaugurada a ferrovia Curitiba-Paranaguá, uma ligação rápida e moderna até o porto, que impulsionou o desenvolvimento de Curitiba e o escoamento de seus produtos para exportação.
Após a Proclamação da República, o engenheiro Cândido Ferreira de Abreu se tornou o primeiro prefeito de Curitiba, que governou a cidade entre maio de 1893 e dezembro de 1894. No século XX, outras ondas imigratórias de diversas nacionalidades chegaram à região, mas, também, de migrantes brasileiros que se deslocavam de outras regiões do Brasil em busca de uma nova vida em Curitiba. Segundo dados do IBGE, a população de Curitiba no ano de 1900 era de 49.755 mil habitantes e, ao final do mesmo século, no ano 2000, o município comportava mais de 1,5 milhões de residentes. O rápido e grande crescimento demográfico tornaram Curitiba uma das cidades mais verticalizadas do Brasil, e forçaram o poder público a elaborar um novo plano de urbanização que mudaram suas características. A partir da década de 1970, a rua XV de Novembro foi fechada para o trânsito de veículos automotores, tornando-se exclusiva para pedestres. Novos bairros planejados foram criados e tiveram ligações rápidas com grandes e largas avenidas, parques foram criados, e uma rede integrada de transporte público foi desenvolvida baseada no conceito Bus Rapid Transit (BRT), operado por ônibus que trafegam por vias exclusivas e que conectam várias regiões da cidade. As medidas adotadas aumentaram a qualidade de vida dos curitibanos, tornaram a cidade conhecida e premiada internacionalmente.
Porém, nos últimos anos, o aumento da criminalidade tem sido um dos principais problemas de Curitiba, que a colocam entre as 50 cidades do Brasil com maior taxa de homicídios, segundo dados do Atlas da Violência de 2021. De acordo com o estudo realizado pelo Boletim – Desigualdade nas Metrópoles, divulgado em 2022, a desigualdade social e econômica é outro problema a ser enfrentado, pois a pesquisa mostra que a renda dos mais pobres caiu 19%, entre 2014 e 2021. No mesmo período, os índices de pobreza subiram para 13%, e de extrema pobreza em 2,5%. Outro problema de Curitiba é a mobilidade urbana que, embora tenha avançado e servido de exemplo para o mundo até o final do século XX, atualmente é uma das principais reclamações dos residentes da cidade.
Conforme dados do IBGE, o comércio e a prestação de serviços é o setor mais relevante para a economia de Curitiba, com destaque para educação e saúde. Em sequência, o setor secundário impulsiona o desenvolvimento da cidade, devido ao pujante parque industrial que emprega milhares de trabalhadores, com ênfase na indústria automobilística e alimentícia. O setor primário é o setor menos relevante para o PIB do município, uma vez que, desde o ano 2000, a população de Curitiba é considerada totalmente urbana, e praticamente é inexistente as grandes áreas que podem ser destinadas à agricultura, à pecuária e ao extrativismo.
Desde 1973, Curitiba é considerada o centro da Região Metropolitana de Curitiba (RMC), que abrange 29 municípios, totalizando uma área de quase 16 mil km² e pouco mais de 3,7 milhões de habitantes, segundo estimativas do IBGE/2021. Só o município de Curitiba possui uma população de quase 2 milhões de habitantes, distribuídos em 75 bairros e nove distritos administrativos, o que tornam Curitiba o município mais populoso do Paraná e da região Sul do Brasil, bem como um dos principais centros financeiros do país.
Passados 330 anos, a Vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba se tornou uma cidade grande, assim como o tamanho de seus desafios para o futuro.