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É organizado, mas nem sempre

Foto: Divulgação/Ascom Câmara Municipal

03/05/2022 – 09:39:54

Coletivo Veio do Saco

A gente até tenta, viu, mas tá difícil acompanhar o ritmo dos nobres vereadores da Câmara do Município de Guarapuava. Maio nem bem começou e a temperatura voltou a subir na sede do Poder Legislativo Municipal. Durante a sessão de ontem (02), na leitura do expediente, dois assuntos chamaram a atenção dos telespectadores logo de cara: a suspensão do fornecimento de energia para o Instituto Virmond, vulgo Hospital Santa Tereza e a ata da reunião que indicou o Conselho de Ética que irá apurar as denúncias sobre membros do Poder Legislativo. O que a população tem cobrado com veemência é a postura da Casa com relação ao caso que envolve o vereador Sidão Oreiko (União), que supostamente extorquiu uma funcionária da administração municipal por ele indicada. O caso está sendo investigado pela polícia e nas redes sociais a população pede a cassação do vereador.

E aí veio o horário das lideranças de bancadas (kkkk), aberto pelo pronunciamento do presidente da Casa [da Mãe Joana], vereador João Napoleão (PODE) que bancou o arrependido e se desculpou com o colega de partido, vereador Elcio Melhem (PODE), pelo surto da semana passada: “[…] Eu estou aqui porque…pedindo realmente desculpas pelo momento de infelicidade […] as pessoas que me conhecem sabem que eu estouro, mas também eu não tenho problema nenhum em voltar no dia seguinte e reconhecer o meu erro”. Napoleão se referia ao showzinho protagonizado por ele na semana passada, em que disse em alto e bom tom ao vereador Elcio Melhem que estava falando com os titulares, não com segundo suplente. O presidente reconheceu a importância dos suplentes para a eleição dos 21 vereadores e vereadoras da Casa e pediu desculpas ao colega vereador que aceitou as escusas.

Conhecido fato ou não, a verdade é que quem acompanha as sessões há vários anos, já deve ter percebido que quando há uma troca de farpas entre os homens da Câmara, o pedido de desculpas acontece no mesmo dia ou na sessão seguinte. Veterana na Casa, Professora Terezinha (PT) já foi alvo de diversas quebras de decoro e ofensas pessoais, de cunho machista e misógino, mas nunca recebeu um pedido de desculpas, assim como outras vereadoras que já passaram pela casa em legislaturas anteriores. Hoje, novamente, primeiro vice-presidente e presidente em exercício da sessão, vereador Marcelinho (União), seguiu os passos do presidente da Casa e elevou o tom de voz durante explanação feita pela vereadora Professora Terezinha. Parece ser mania, com exceção do vereador Paulo Lima (PODE), que o presidente e o vice elevem o tom de voz ao não concordarem com o argumento posto pelos colegas da bancada. E quando esse argumento vem de umas das mulheres da bancada, o grito é mais alto ainda. Patético… para dizer o mínimo.

Quando a pauta foi saúde, os vereadores Nego Silvio (PODE), Cris Wainer (PT), Prof.ª Bia (MDB), Rodrigo Crema (União), entre outros, falaram do descaso com o qual a saúde de Guarapuava está sendo tratada. Virou quase um mantra ter que falar da gestão de Celso Góes aqui, e até parece implicância nossa, mas o camarada não ajuda muito. O vereador Pedro Moraes (Republicanos) sugeriu o diálogo direto com o governo do Estado, as professoras Bia e Cris Wainer relembraram os problemas com a central de leitos do governo do Estado, enquanto que o vereador Elcio Melhem relembrou o quanto Guarapuava já foi destaque para o estado, quando tinha pelo menos cinco hospitais e hoje caminha com “um hospital e meio”. Prof.ª Bia destacou suas visitas às unidades de saúde, o diálogo que tem aberto com os profissionais de saúde e com o próprio secretário municipal, Jonilson Pires. Rodrigo Crema relembrou que o município até recebeu verba para construir D-U-A-S UPAS, mas que a segunda unidade nunca saiu do papel porque o então prefeito, Cesar Filho (PSDB), devolveu o dinheiro ao governo federal e a cidade perdeu uma unidade. A UPA Batel teve sua construção iniciada na gestão de Fernando Carli, hoje no PSD, que com recursos do Governo Dilma Rousseff (PT) entregou a unidade praticamente finalizada.

Rodrigo Crema também lembrou aos demais colegas que está marcado para hoje, às 17h, um protesto organizado pelas redes sociais em frente à Câmara Municipal, que tem como objetivo a cobrança dos 21 vereadores e vereadoras pela situação da saúde no Município de Guarapuava. O movimento que – em tese – tem centenas de apoiadores, está se organizando para pressionar os legisladores a se posicionarem e cobrarem o Chefe do Poder Executivo, Celso Goes, pela contratação de mais médicos para a cidade de Guarapuava. A imagem do prefeito – que está bem queimada – ficou mais exposta diante da festa realizada no parque do Lago no último domingo, dia do Trabalhador, que contou com um show da dupla João Bosco e Vinícius, que custou 124 mil reais aos cofres públicos. Nas redes sociais, parte da população aplaudiu a iniciativa enquanto que a outra metade disse que o dinheiro seria melhor investido em saúde e contratação de pediatras.

Pensa que foi só isso?

Que nada, passada a fase das lideranças de bancada e grande expediente, os edis foram debater e votar a composição do Conselho de Ética e foi aí que o circo se instalou de novo.

O que nos deixa perplexos é o quanto o Poder Legislativo e alguns de seus membros vêm perdendo a compostura e passaram a transformar o Poder em terra sem lei, é uma gritaria sem fim e que não parece sede de Poder, mas uma assembleia estudantil de DCE, onde quem está com o microfone e berra mais alto é quem vence a peleia. Na sessão desta segunda-feira isso ficou claro novamente e o racha da bancada ficou em evidência outra vez quando foi aberta a discussão da formação do conselho de ética da Casa.

E aí passadas duas horas de sessão, veio o prato principal: a formação do conselho de ética da Casa. Informados os nomes que iriam compor o conselho, Elcio Melhem – não concordando a formação e atitude de alguns colegas vereadores – pediu a palavra: “Eu me recordo que uma ou duas sessões anteriores, quando se comentou aqui a formação do conselho de ética, foi anunciado que todos os vereadores poderiam participar e deveriam participar […] porque a Comissão de Ética é extraída do conjunto da Câmara. E surpreendentemente quando nós – o vereador Celso e o vereador Anciuti adentramos ali na sala de reuniões, só não nos tocaram pela amizade, mas falaram que era reunião do bloco. Esta Casa, ao que me consta, é composta de 21 vereadores e não é composta de meia-dúzia. Os 21 vereadores deveriam de ter o mesmo direito de opinar na formação do Conselho de Ética. Eu sempre fui favorável […], mas desde que ela [comissão] fosse de consenso da Câmara, por isso, já que não houve esse consenso, o meu voto vai ser contra.

O vereador Pedro Moraes esclareceu que todos os vereadores foram convocados e se disse surpreso com a informação de que os colegas haviam sido convidados a se retirar. Gilson da Ambulância e Vardinho disseram que a tal reunião era para tratar de assuntos da bancada independente e não da formação do Conselho de Ética. O “entreveiro” ou o bom rebuliço estava na questão da reunião que fora realizada para a formação do conselho, que acabou por excluir membros da bancada de sustentação do prefeito na Casa e que teria sido realizada somente com membros da bancada independente. Celso Costa (CDN) disse que seu assessor havia sido informado pela secretaria da Presidência de que a reunião era aberta a todos os parlamentares, porém, quando ele, Elcio Melhem e Wilson Anciuti (União) chegaram na sala, foram convidados a se retirar da reunião.

Com a tal mania que o legislativo, em todas as esferas, tem de montar blocos para tudo, na Câmara Municipal não foi diferente. Atualmente são três os blocos na Casa: base do governo, independente e oposição, além da bancada feminina, que conta com as três vereadores de oposição e uma vereadora no bloco independente, mas o Conselho de Ética foi formado a partir de um bloco que já não existe mais, conforme lembrou a vereadora Professora Terezinha, que foi o bloco formado no início da legislatura e que tinha como objetivo a formação das comissões permanentes da Casa. Com exceção do PT, faziam parte daquele bloco todos os outros partidos representados na Casa.

Aldonei, o vereador Dognei (PDT), aparentemente já cansado de tanta gente falando – assim como todos nós – resolveu abrir mão da vaga de membro do Conselho de Ética, para tentar apaziguar seus pares, e sugeriu uma nova reunião com todos os vereadores para que pudessem resolver os impasses. A Professora Terezinha, por sua vez, recorreu ao Regimento Interno da Câmara – uma ideia que parece não ter ocorrido aos demais. Depois de suspensa a sessão para que fosse colocada ordem na bagunça, os trabalhos foram retomados e aí em comum acordo foram anunciados os nomes dos integrantes do Conselho de Ética, sendo eles: vereador Gilson da Ambulância, vereador Vardinho e vereador Nego Silvio. Outro detalhe que chama a atenção, é que mesmo havendo concordância de todos, nenhuma vereadora foi incluída na composição, o que por si só já revela também outro problema. Dos 17 homens da Casa, três serão membros do Conselho e a 4 mulheres da bancada feminina ficaram sem representação.

Se por um lado os blocos são importantes para que haja o equilíbrio da Casa ou o total suporte das ideias do Poder Executivo, a verdade é que essa história de bloco daqui bloco de lá já está ficando chata demais e a população vem perdendo a paciência a cada dia que passa. Quem era base de sustentação do prefeito virou independente, mas somente quando convém. Muitos dos vereadores estão querendo dar um tapinha na mão dos secretários do Poder Executivo, mas não querem perder as benesses por serem amigos do Rei. Ao que parece, Odorico Paraguaçu deixou discípulos dentro da Câmara Municipal de Guarapuava, é um enaltecimento que não tem fim, a todo momento babando nos pés do Chefe do Poder Executivo; o que está bem claro é que há tempos o Poder Legislativo tornou-se apenas um Conselho de Ratificação das vontades do Senhor Prefeito Municipal Celso Fernando Góes, tudo é feito conforme sua vontade.

A marca do fracasso que tem sido a gestão de Celso Góes até agora é que nem mesmo o homem tendo 17 dos 21 vereadores no bolso, consegue fazer as coisas andarem do jeito que precisavam andar. De que vale ter a maioria no Poder Legislativo se nem ao menos executar seu trabalho consegue? Se para Cesar Filho, o verdadeiro piá de prédio e para Fernando Carli, o político nato, sobrava a capacidade de articulação, para Celso Góes falta até mesmo o entrosamento entre ele e seus secretários. Para quem tinha o apoio de toda a força da política tradicional e arcaica de Guarapuava, hoje ele tem apenas o apoio de um deputado e já começa a decepcionar o governador do Estado, que apostou algumas fichas em Góes, mas que pode facilmente ser descartado. Aos poucos, sua base vai desmanchando e seus asseclas já não lhe cercam mais como antes, quem liderava a matilha corre o risco de ser posto de lado e morrer à mingua no inverno das eleições, corre o risco de disputar a prefeitura com seu vice-prefeito e perder feio em 2024.

O anti-petismo que domina essa cidade faz com o que o povo desesperado e desinformado deposite sua confiança no primeiro que aparece e aí depois são quatro anos reclamando em facebook; o povo tomou gosto por ser governado por homens brancos e cabelos grisalhos com falas bonitas e bem escritas por seus assessores, mas Celso foi a exceção. Ninguém escreve seus discursos, ninguém lhe diz o que e quando falar o que lhe vem à cabeça, é daqueles que também acha que pode ganhar tudo grito e quando está irritado, a veia em sua têmpora quase explode e o bicho fica vermelho da cor do PT ao qual ele já foi filiado um dia. A melhor coisa que Celso Góes pode fazer para o povo guarapuavano é não disputar a reeleição em 2024. Entregue para o seu vice, ou melhor, que a população guarapuavana tenha o bom senso de reconhecer que temos quatro mulheres bem preparadas dentro do Poder Legislativo e que podem dar um rumo decente para essa cidade. Guarapuava não para mais de ir para o buraco! Quem puder que fuja para as colinas e que leve o véio do saco junto, pois do jeito que andam as coisas, nem os idosos tem respeito nessa cidade.

Coletivo Veio do Saco

O Coletivo Veio do Saco foi formado por integrantes da sociedade civil que acompanham, religiosamente, as sessões da Câmara Municipal de Guarapuava, com o intuito de fiscalizar as ações do Poder Legislativo. Essa figura mitológica das lendas guarapuavanas, que sempre assustou crianças mal criadas, a partir de agora vai assombrar os políticos também.