OPINIÃO

Eleições 2022: Nem se arrume, Moro, porque você não vai

Foto: Eduardo Matysiak

10/06/2022 – 12:56:02

Luiz Felipe

Eu poderia crivar esse texto com diversos nomes como “o homem que queria ser presidente” ou “a fraude Sérgio Moro”; “os fantasmas de Moro”, mas tem que ser esse mesmo, porque nessas eleições, amigo, você não vai. Tchau, querido.

Em 2018, a Netflix Brasil registrou um alto nível de aceitação da série “O Mecanismo”, dirigida pelo homem de bem (contém ironia) José Padilha (o mesmo de Tropa de Elite) que conta a história da operação farsa a jato, digo, Lava Jato e o endeusamento do então juiz Sergio Moro. Mas como nem tudo são flores neste mundo, entre o auge da operação Lava Jato e o presente ano, Moro desmoronou e foi de juiz prestigiado (não sei porquê) a Ministro de Estado, capacho do Presidente Jair Bolsonaro (PL) e agora está desempregado.

Para os que não sabem o que Sergio Moro fez no verão passado, vale a pena voltar algumas casas, ou melhor, alguns anos. Tudo começa aqui mesmo no Paraná e os protagonistas são dois jovens, um de Maringá e outro de Londrina. O primeiro, um jovem de Maringá, de família classe média-alta, filho de professor universitário, frequentou a prestigiada Universidade Estadual de Maringá (UEM), onde formou-se em Direito, em 1995; depois fez pós-graduação e converteu-se em juiz federal após aprovação em concurso público e tornou-se o juiz Sergio Moro.

Na contramão do primeiro, filho de libaneses, Alberto Youssef era um jovem promissor já aos 9 anos, mostrando que tinha faro para negócio enquanto vendia pasteis pelas ruas de Londrina, com 18 já pilotava aviões e logo depois tornou-se dono de uma poderosa casa de câmbio e com menos de 30 anos já era um homem de negócios, ligado ao contrabando e um exímio doleiro, uma “profissão” no crime organizado que comete delitos contra a União com evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

Em 1996, Sergio Moro era juiz substituto em Curitiba e nesse mesmo ano, Youssef já estava envolvido com o maior escândalo do Paraná, que envolvia o Banco do Estado do Paraná – o BANESTADO. Segundo dados da Justiça Brasileira, entre 1996 e 2002, 30 bilhões de dólares foram evadidos do país para os Estados Unidos por meio de uma falcatrua chamada de conta CC-5, uma conta de moeda nacional para não residentes, uma prática comum e homologada pelo Banco Central na década de 1960. O centro de tudo era em Foz do Iguaçu, onde diversas contas “laranjas” foram abertas em nome de pessoas humildes; as agências recebiam remessas de dinheiro que supostamente eram do comércio na Cidade do Leste (Paraguai). Carros-fortes eram utilizados como forma de maquiar o retorno de dinheiro para o banco e dessa forma, ele saía do país por meio das contas de não residentes, geralmente pessoas jurídicas com residência no Paraguai e também nos Estados Unidos.

Quando a fraude foi descoberta pela Polícia Federal, a Receita Federal e o Ministério Público Federal deram início a uma serie de operações para levar todos os culpados à Justiça e aqui é que fica mais interessante. Os mais jurássicos conhecem a história, mas aqui vai o desafio para os jovens: uma bala para quem acertar quem era o juiz do caso Banestado. Valendo!

Acertou quem respondeu Sergio Moro. O jovem magistrado foi o juiz responsável. Dos quase 700 denunciados pelo Ministério Público, apenas 97 pessoas foram condenadas. Alberto Youssef era um deles, porém, fez um acordo e se safou da prisão com aval de Sergio Moro para voltar a praticar crimes dez anos depois de quando deveria ter sido preso.

Mas como tudo que é ruim sempre pode piorar, é importante registrar que os desrespeitos de Moro não começaram na Lava Jato, mas já no desdobramento do Caso Banestado com a Operação Farol da Colina, que ocorreu – em partes – nos Estados Unidos. Naquela ocasião, Moro coagiu dois suspeitos sob pena de desobediência a liberarem o acesso às suas contas pessoais. Tudo passou batido e o Paraná ficou com um prejuízo de 500 bilhões de reais e gente que merecia estar na cadeia andando livremente, inclusive Sergio Moro.

Saltamos para 2013, um ano antes do início da Lava Jato. A operação Agro-Fantasma, da Polícia Federal, buscava investigar supostos desvios no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do Governo Federal. Numa manhã de primavera, policiais federais invadiram uma propriedade na cidade de Irati para prender o pequeno agricultor Gelson Luiz de Paula; além do mandado de prisão contra Gelson, havia também um mandado de busca e apreensão para um veículo no valor de R$ 80 mil e um iate, bens que nunca existiram. Os mandados foram assinados por Sergio Moro, que levaram para a cadeia – INJUSTAMENTE – 13 pequenos agricultores, que foram absolvidos em 2016 por Gabriela Hardt, a substituta de Moro na Lava Jato e que continuou com as imprudências cometidas pelo ex-colega.

E aí em uma bela manhã de 2014, um antigo conhecido de Sergio Moro foi preso em um hotel no Maranhão. Esse conhecido, tinha ligações criminosas com o falecido deputado paranaense José Mohamed Janene, do PP e com o proprietário do Posto da Torre, na Asa-Sul, em Brasília, que possuía um movimento grande por conta da lava jato, de onde vem o nome da operação. O conhecido era Alberto Youssef.

O chamado “marco-zero” para o início da Operação Lava Jato foi um inquérito da Polícia Federal em Londrina, liderado pelo delegado Gerson Machado, ainda no ano de 2008. Mas Youssef também escapou naquela ocasião e foi aí que a Polícia Federal começou a refazer os passos de depósitos identificados e movimentações consideradas suspeitas pelo então COAF. Nesse ínterim (2008 a 2013) a PF investigou operações criminosas entre Youssef, o deputado Janene e o doleiro Chater, o dono do Posto da Torre.

E como todo criminoso é burro em algum momento, em julho de 2013 a Polícia Federal conseguiu indícios suficientes para desencadear a investigação sobre a Petrobrás, a partir de um “presente” que o ex-diretor de abastecimento da estatal ganhou de Youssef com dinheiro de terceiros: Paulo Roberto Costa ganhou um Land Rover Evoque de mais de 300 mil reais.

Um fato inegável – apesar de todo o circo político armado – é que a Lava Jato realmente rasgou o véu da corrupção institucional que assolava a Petrobrás. A empresa dava tanto lucro, que nem mesmo os desvios milionários eram perceptíveis quando comparados ao montante que a empresa lucrava. Além disso, a operação também desvendou crimes de lavagem de dinheiro, fraude em licitação, evasão de divisas, formação de quadrilha e cartel, além de pelo menos outros 30 crimes envolvendo o Governo Federal, governos estaduais, empreiteiras, bancos, políticos, empresários, pecuaristas e afins.  Mas o que fez a Lava Jato tornar-se uma farsa, foi a manobra política para que um único responsável fosse indiciado por todos os crimes dos demais e para a destituição de uma presidente que em momento algum foi sequer indiciada por crime. A Lava Jato pintou o Partido dos Trabalhadores (PT) como inventor da corrupção, que mesmo não sendo composto por uma mesada de anjos, também não pode ser o inventor de tudo; a corrupção não começou nos governos Lula e Dilma, já vem de antes e teve aval de quem praticamente negociou sentenças nos processos para livrar a cara de políticos do PSDB, do extinto PFL, MDB e outros.

Passada a fase do circo de prisões preventivas, espetáculos praticamente teatrais, começam as fases de julgamento e delações premiadas, onde governadores e ex-governadores começam a ser presos, o então Presidente Michel Temer é delatado, mas protegido, além de uma série de outros números de circo. Além de tudo isso, a Lava Jato também cometeu outro erro gravíssimo: a destruição do país. Em países um pouco mais civilizados e onde o sistema de justiça não é tão vendido quanto o nosso (sim, em todo mundo existe isso, não é exclusividade nossa), os processos envolvendo corrupção entre governo e empresários visam colocar na cadeia os culpados, mas não destroem a economia e empregos, que foi o que justamente ocorreu no Brasil. A Lava Jato foi a responsável por deteriorar o país e não colocou na cadeia quem realmente deveria estar preso.

Quando a casa de Sergio Moro começou a desmoronar, o próprio STF se viu obrigado a revisar as sentenças de Moro e o fez para gerar uma revolta popular, não porque estava interessado no benefício do país pela transparência da Justiça. O STF que deu um tapinha na mão de Moro foi o mesmo que o deixou correr solto rasgando o código penal e a própria Constituição Federal.

Agora, quatro anos depois de falar em entrevista ao Fantástico (TV Globo) que jamais se envolveria na política, Moro é um ex-candidato à presidente. Abriu mão do posto de juiz federal e foi integrar a campanha de Jair Bolsonaro, usou a justiça para tirar o oponente direto de Bolsonaro da disputa com um abuso de poder merecedor de cadeia. Virou Ministro e tentou manter o discurso de que não compactuava com a corrupção, mas bastou discordar de Bolsonaro e foi desacreditado pelo presidente e saiu pela porta dos fundos do Planalto. O herói de Bolsonaro tornou-se seu pior inimigo, tornou-se um traidor para os bolsonaristas mais radicais e um deus para os que se arrependeram de votar em Bolsonaro. E teve gente que teve que parcelar essa vergonha no crédito.

Depois de sair do governo, Moro buscou opções de partido até que encontrou o Podemos, que fez um verdadeiro espetáculo para a filiação do ex-juiz. Passado certo tempo, os possíveis atritos com gente como Álvaro Dias, um velho conhecido de adivinha quem? ALBERTO YOUSSEF. Supostamente, Dias recebeu dinheiro de caixa 2 articulado pelo Doleiro. Mas sendo verdade ou não, Moro não esquentou banco no partido e se você acha que já foi trouxa nessa vida, não chega aos pés de Álvaro Dias e o PODEMOS, que pagaram a passagem do Moro para ele ir a São Paulo se filiar no União Brasil (KKKKKKKK).

E esperto como tal, Moro tentou dar um migué usando o endereço de um hotel para fixar domicílio eleitoral na capital paulista. E o pesadelo de Moro, o PT, foi à justiça contestar a decisão da 5ª zona eleitoral que autorizou a mudança de Curitiba para São Paulo. Resultado: por 4 votos a 2, o TER-SP decidiu que – no estado de São Paulo – Moro não pode nem ser candidato a vereador, até que regularize sua situação com a Justiça Eleitoral. Como o prazo para isso já passou, por SP ele não será candidato ao senado como queria e a presidência já dançou, uma vez que o candidato do União Brasil poderá ser Luciano Bivar, que é oficialmente o pré-candidato do partido.

Então fica a dica: quando você achar que a sua vida está difícil e que você tá levando tombo atrás de tombo porque quis dar o passo maior do que a perna, lembre-se do seguinte: você não é o Sergio Moro; porque homem que queria ser presidente e que será no máximo mesário. Na época do Lula, até o Moro tinha emprego.


por:

Luiz Felipe de Lima

• Historiador •

Formado pela Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro;

Professor de História e Sociologia;

Pesquisador.

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