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Fogo no parquinho

Foto: Divulgação/Secom Prefeitura de Guarapuava

26/04/2022 – 07:36:36

Coletivo Véio do Saco

Há tempos que as tardes do Poder Legislativo Municipal não eram tão animadas como estão sendo desde que as sessões da Câmara voltaram a acontecer em 2022. Se faltou ação no ano passado, esse ano não chegamos nem na metade do ano e a ação já superou todas as expectativas. Enquanto as vereadoras de oposição Cris Wainer, Prof.ª Bia e Professora Terezinha seguem com suas agendas apresentando as articulações com deputados trazendo recursos para a cidade, a base dividida do prefeito Celso Góes segue sendo protagonista nas sessões. A vida do Celsin tá difícil.

Na sessão que rolou nesta segunda-feira (25), o climão já pintou como tema de abertura da sessão, pois o vereador Gilson da Ambulância (SD), líder da tal bancada independente, fez um requerimento verbal ao presidente – que deferiu – solicitando a criação da Comissão de Ética. Disse Gilson: “Eu venho fazer o pedido em nome da bancada independente, que na sessão de amanhã venha ser criado, senhor presidente, da Comissão de Ética, até pelas denúncias que têm chegado a esta Casa, então deixo o pedido à Vossa Excelência”.

O clima que se seguiu também não foi dos mais amigáveis…como já foi antes na Casa. Elcio Melhem (PODE) mostrou que é um político nato, que sabe como se conectar com a população, e mandou brasa: “Só para corroborar a fala do Vereador Gilson, tomara que dessa vez se crie o conselho (comissão), né, senhor presidente?! Porque eu tenho escutado ao longo dos anos aqui nesta Casa, infelizmente tem sido feito um fogo de palha, mas nós precisamos ter um conselho de ética na Câmara, porque isso é imperativo, isso é algo que vem em favor do próprio Poder, não é criar para punir, mas é um conselho que vem disciplinar, inclusive a conduta do próprio vereador desta Casa. Então eu quero parabenizar e torcer desta que nós tenhamos efetivamente constituído um conselho de ética”.

Após a fala de Elcio Melhem, em um caminho quase de alteração, com elevação de voz, foi a vez do presidente da Casa, vereador João Napoleão, dar o seu recado: “Eu estou aqui presidente e não preciso esconder de nenhum de vocês, a hora que vier aqui pra cassar um vereador, eu não voto pra cassar, é o meu entendido. Quem deve cassar o vereador é as urnas, não sou eu. Se fosse assim, eu tinha cassado o Márcio, o Celso Costa na legislatura passada, eu não… tinha cassado o falecido Cleto Tamanini. É a forma de cada um pensar […] e eu não tenho medo nenhum de falar porque eu falo, à noite eu já sei que vou estar nas redes sociais, muito bem, obrigado. Tranquilo. […] se gostar de mim faz um favor, se não gostar faz dois”.

Na tribuna, o vereador Elcio Melhem deu mais um recado e que serviu de puxão de orelha ao seus colegas também; o vereador relatava seu receio de que passada uma semana da morte trágica do Cabo Ricieri, vítima de um disparo fatal ocorrido na noite em que a cidade foi atacada por marginais; o fato fosse completamente esquecido e que as cobranças deixassem de serem feitas, principalmente sobre o efetivo e as melhores condições de trabalho para os policiais militares. Um dos grandes defensores da PM, o vereador sempre deixou muito claro seu posicionamento em favor das melhores condições de trabalho e sempre fez duras cobranças aos deputados e ao governo estadual. Melhem, inclusive, está mostrando como se fazer uma vereança articulada, doa a quem doer.

E quando chegou a ordem do dia, a temperatura voltou a subir. O primeiro item na pauta a ser discutido e votado era um requerimento de autoria do vereador Rodrigo Crema (União), que solicitava informações acerca do aumento do piso salarial dos professores concedido por Bolsonaro. Gilson da Ambulância mal havia terminado de ler o item da Ordem e o vereador Elcio Melhem, com muito conhecimento de causa, novamente mostrou a que veio e deixou claro o que é agir como líder do prefeito na Casa de Leis: “Senhoras e senhores vereadores, nós somos favoráveis ao pedido do vereador, mas é bom que essa Casa saiba que não há nenhuma lei de autoria do presidente da República concedendo aumento de 33% ao piso. O que há é uma portaria, uma portaria assinada pelo Ministro da Educação que surrupiava dinheiro da Educação, aquele ministro que com os pastores denunciados por n números de prefeitos, assinou a portaria”. Depois de ler a portaria do MEC, que segurava em mãos para corroborar sua explicação, o vereador deixou claro que portaria não tem força de lei.

Rodrigo Crema, se contorcendo na cadeira, respondeu o colega vereador: “Senhor presidente, primeiro, o ex-ministro da Educação não estava roubando, nós sabemos muito bem que existiam pastores que estavam fazendo lobby junto a prefeitos, então eles estavam usando de influência de ter uma amizade com um pastor mais importante, que nós sabemos que a igreja evangélica foi extremamente favorável à eleição do presidente Jair Bolsonaro […] está sendo investigado pelo Supremo, está sendo investigado pela Polícia Federal, está sendo investigado pela Procuradoria-Geral da União e nós vamos depois acompanhar se o ministro estava envolvido […] o que acontece é que agora vaza, suspeita de corrupção nesse governo vaza, quando era o PT…” e aí o parlamentar perdeu o rumo da discussão e não falou absolutamente nada do requerimento em votação, como foi advertido pela vereadora Professora Terezinha (PT): “Pela ordem, senhor presidente […] eu quero constatar que segundo nosso regimento, ao discutirmos um projeto nós temos que nos deter ao conteúdo, nós estamos discutindo aqui a solicitação de informação em relação ao reajuste do piso salarial nacional”.

Como estudiosa do regimento, como o próprio presidente sempre destaca nas sessões, a vereadora invocou o regimento para que o assunto voltasse à sua discussão original. O presidente acolheu o pedido e advertiu o vereador, mas deu aquela passada de pano, dizendo que em outros momentos de discussões, os próprios vereadores já tinham ido além do que era para se discutir. “Pau que dá em Juca, tem que dar em Manduca […] vamos devagar com o andor que o santo é de barro”. E para justificar a falta com o regimento cometida pelo colega vereador, o presidente comparou a casa com o Congresso Nacional: “Aqui é o parlamento, é o lugar de falar, muitas vezes você não vai seguir na regra. Nem no Congresso ninguém segue na regra, no Senado… nós até fazemos mais”. O requerimento foi aprovado por todos os presentes.

Na sequência, foi a vez da bancada independente dar o ar da graça novamente quando o projeto votado era de autoria do Executivo, um projeto que atualizava o zoneamento da cidade em virtude da inclusão de novos loteamentos e áreas a serem construídas. O vereador Valdemar dos Santos, o Vardinho (CIDA), pediu em nome da bancada um adiamento de 7 dias para que projeto seja melhor analisado, pedido ao qual ninguém se opôs.

Várias teorias conspiratórias já foram levantadas pelos cidadãos guarapuavanos acerca da constituição dessa bancada independente, que diga-se de passagem não deu muitos sinais até agora. O Clube dos 11 é maioria na casa no momento e já deixou claro que está mais do que disposto a complicar a vida do Chefe do Poder Executivo e fazer o mandatário e seus secretários dançarem no ritmo que o Legislativo mandar. Celso Góes sabe que está em desvantagem no momento, mas seu estilo brigão e de dizer tudo o que lhe vem à mente ainda não floriu publicamente com os 11 vereadores do bloco.

O próximo passo que a população aguarda ansiosamente é a eleição da Mesa Executiva, que pode trazer surpresas para o Poder Legislativo. A bancada – embora tenha maioria – ainda terá que fazer acordos para decidir quem será o candidato do grupo. Os ainda fiéis aliados do prefeito – que são agora 1/3 da Câmara, se juntam em torno do nome do ex-líder do governo na Casa, vereador Márcio Carneiro (CIDA). De outro lado, o clube dos 11 – se permanecer unido – tem 11 votos garantidos e o nome do próximo presidente a apontar. Mas como nem tudo são flores na política, principalmente na política guarapuavana, a eleição da Câmara pode ser definida pela bancada feminina, pois dependendo de quem serão os candidatos, os 11 viram 14 ou a minoria volta a ser maioria na Casa.

No cenário estadual, as coisas também continuam difíceis para o chefe do Poder Executivo Municipal. Aliado dos dois deputados estaduais eleitos por Guarapuava e Região, o prefeito terá que tomar o lado do governo estadual e abandonar sua aliança com os Silvestri, principalmente pelo fato de que o ex-prefeito Cesar Filho e sua mãe, deputada Cristina, romperam laços com o governo Ratinho Jr. César, como bom piá de prédio que é, bateu o pé e agora é pré-candidato ao governo do Paraná, e não terá o apoio de quem ajudou a eleger prefeito em sua cidade, um apoio que é fundamental, pois quem levar Guarapuava pode levar também outros 30 municípios de extrema importância para a região centro-sul do estado. Sendo a vitória de Ratinho Jr. quase certa ainda em primeiro turno, quanto mais afastados do rebanho, maiores as chances de morrer de fome; com isso serão poucos os municípios afastados do Governo do Estado, que tem comprado prefeitos e vereadores do interior a preço de batata.

E não melhora muito para 2024, já que Celso Góes pode ser o primeiro prefeito a não se reeleger desde a criação da reeleição por Fernando Henrique Cardoso em 1997, quando o próprio comprou – também a preço de batata – o Congresso Nacional para lhe dar um segundo mandato. Como dito no texto anterior desta coluna, o mandatário ainda não apresentou um grande projeto ou lei de sua gestão, tudo o que vem sendo desenvolvido ainda é fruto da gestão César Filho. Seja verídico ou não, o que deve tirar o sono do nosso amigo prefeito todas as noites é a possibilidade de ter que concorrer com seu antigo vice-prefeito, Samuel Ribas, que por enquanto é pré-candidato a deputado estadual. Samuel tem percorrido algumas cidades da região e angariando apoio do agronegócio, da indústria e comércio; diferente de Celso Góes, Samuel Ribas tem o espírito Carlista, obviamente, herdado do tio, possui carisma, é bem-humorado ao falar com a população nas redes sociais, é o político que seguiu o tutorial de ir no evento e comer um pastel de feira, de tirar fotos com crianças e com velhinhas simpáticas. Parafraseando o ex-presidente Lula, nunca antes na história de Guarapuava se viu o ex vice-prefeito engolir o atual prefeito a uma mordida por vez. A última cereja do bolo é a eleição em outubro, se Samuel Ribas for eleito, é bon voyage da prefeitura, caro Celso. Abre o olho com teus amigos!

 

Coletivo Veio do Saco

O Coletivo Veio do Saco foi formado por integrantes da sociedade civil que acompanham, religiosamente, as sessões da Câmara Municipal de Guarapuava, com o intuito de fiscalizar as ações do Poder Legislativo. Essa figura mitológica das lendas guarapuavanas, que sempre assustou crianças mal criadas, a partir de agora vai assombrar os políticos também.