06/06/2022 – 07:11:15
André Luis A. Silva
Entre os dias 05 e 16 de junho de 1972, em Estocolmo, capital da Suécia, realizou-se a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, a primeira grande reunião com a presença de inúmeros chefes de estado para discutir a degradação do meio ambiente. A Conferência de Estocolmo, como ficou mundialmente conhecida, ascendeu o alerta para os problemas ambientais e a importância da preservação dos recursos naturais, considerados, até então, inesgotáveis. Também, foram apresentados diversos projetos para melhorar a vivência dos seres humanos e a sua relação com o meio ambiente, bem como, a introdução de uma política ambiental universal, no intuito de preservar o planeta. Foi a partir deste diálogo que, mais tarde, criou-se as bases do que conhecemos hoje como desenvolvimento sustentável e, o dia 05 de junho, primeiro dia da conferência, foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), como o Dia Mundial do Meio Ambiente.
Além de ser um marco na história, a Conferência de Estocolmo abriu caminho para a realização de outros importantes congressos reunindo vários líderes mundiais, no intuito de discutir medidas que possam preservar a biodiversidade do planeta. A exemplo disso, no ano de 1979, em Genebra, capital da Suíça, foi realizada a Primeira Conferência Mundial do Clima, no qual, foram ouvidos pesquisadores e especialistas que, naquela ocasião, destacaram as alterações climáticas como um problema grave a ser enfrentado, consequência da destruição do meio ambiente pelos seres humanos. Alguns anos mais tarde, a Conferência Rio92, realizada no Rio de Janeiro, no ano de 1992, reuniu 175 chefes de estado, tornando-se o maior encontro ambiental até então. Com efeito, os debates tiveram como tema principal os impactos ambientais e a apresentação de projetos políticos e econômicos focados em equilíbrio ecológico e sustentável. Ainda na mesma década, foi ratificado o Tratado de Kyoto, em 1997, no Japão, por mais de 55 países desenvolvidos e em desenvolvimento, que se comprometeram em reduzir a emissão de gases que produzem o efeito estufa na atmosfera global, principalmente o carbono, em diversas atividades econômicas. Também vale mencionar o Acordo de Paris, o mais importante tratado de redução de gases a fim de conter o aquecimento global. O acordo foi negociado em Paris, capital da França, no ano de 2015, e os líderes mundiais se comprometeram em gerir medidas políticas e projetos econômicos para promover o desenvolvimento sustentável e, ao mesmo tempo, conter o aquecimento do planeta ainda neste século.
Desde a Conferência de Estocolmo, o Brasil tem participado das principais conferências mundiais e se comprometido em atuar junto nas medidas que promovam o equilíbrio ambiental. Nosso maior avanço é na produção de energia limpa que, de acordo com os dados de 2020 do Anuário Estatístico da Energia Global (Enerdata), atingiu 84,1%, colocando o Brasil em segundo lugar no ranking mundial de países que mais produzem energia proveniente de fontes renováveis, apenas atrás da Noruega. Em suma, a matriz energética no Brasil está consolidada na produção de energia renovável (hidroelétrica, solar, eólica, biomassa, geotérmica), que contribui com baixas emissões de dióxido de carbono na atmosfera, quando se comparado com a produção de energia não renovável (petróleo, carvão mineral, nuclear, gás natural), muito utilizada na China, Estados Unidos e Rússia.
Se o Brasil é bem situado no ranking mundial de energia limpa, o mesmo não pode ser dito quando o assunto é reciclagem. De acordo com o relatório anual de 2019, emitido pela World Wide Fund For Nature, o Brasil produziu 79 milhões de toneladas de lixo no ano, deste montante, aproximadamente 92% foi coletado, e apenas 3% reciclado. Estes números colocam o Brasil no ranking dos países que mais produzem lixo no mundo, e longe das nações que mais reciclam, Alemanha (56,1%), Áustria (53,8%) e Coreia do Sul (53,7%). Outros números preocupantes são em relação ao desmatamento da Amazônia. Segundo o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (IMAZON), o desmatamento do bioma, em 2021, foi o maior registrado nos últimos 10 anos. A mesma preocupação também vale para as queimadas. De acordo com os dados de satélite coletados pela Mapbiomas, entre 1985 e 2020, o Cerrado e a Amazônia representaram 85% das queimadas ao longo do período analisado, e o bioma mais atingido foi o Pantanal, que teve 57% do seu território queimado pelo menos uma vez em 35 anos. A mesma instituição de pesquisa mostra que a área de mineração no Brasil saltou de 31 mil hectares, em 1985, para 206 mil hectares, em 2020, um aumento de mais de 500% ou de 6 vezes o tamanho.
A preservação do meio ambiente talvez seja o grande desafio do Brasil nas próximas décadas, ao memo tempo que compõe um grande dilema: preservar o meio ambiente ou garantir o desenvolvimento econômico? O fato é que não podemos nos dar ao luxo de escolher entre preservar e produzir. Quem pode fazer esta escolha são os países desenvolvidos que já possuem um padrão de vida consolidado, prestam bons serviços para a população e já atingiram a estabilidade demográfica. Exemplo disso são os Estados Unidos, Japão e alguns países da Europa, estes podem optar por cercear sua produção e consumo, bem como pela preservação do meio ambiente e a adoção de uma economia verde e sustentável. Quando olhamos para o Brasil percebemos outro cenário, pois ainda somos um país em desenvolvimento, com o PIB estagnado nos últimos 10 anos e que se acostumou a conviver com alta taxa de desemprego. Nossa renda per capita é média e temos uma população que ainda não parou de crescer. Portanto, avançar no desenvolvimento é mais do que necessário para aumentarmos o padrão de vida da população e nos tornarmos uma nação desenvolvida, porém este pode ser um caminho perigoso, pois o desenvolvimento econômico sem responsabilidade com o meio ambiente pode colocar em risco a preservação de nossos biomas e o descumprimento dos tratados já assinados pelo Brasil. Deste modo, a questão ambiental no país deveria ser encarada como um problema de Estado e de soberania nacional. Assim, é preciso ampliar as discussões e colocar em prática projetos que compatibilizem desenvolvimento e meio ambiente, embora pareça contraditório e, muitas vezes, conflituoso. Eis o dilema brasileiro.