Foto: Reprodução
22/04/2022 – 07:36:01
Luiz Felipe
A primeira coisa a ser dita neste texto é o quanto nossa cidade tem sorte por ter policiais bem preparados e que responderam da melhor forma possível ao ataque que Guarapuava sofreu. Aos que criticam, fica a observação de que pessoas de má conduta existem em todos os setores e o fato de existir também dentro da polícia militar, não significa que todos os demais serão transformados em maçãs podres.
Em segundo lugar, fica clara a determinação do governo do Paraná em tapar o sol com a peneira, pois se você assistiu a mesma coletiva de imprensa que eu, percebeu um Secretário de Estado da Segurança Pública totalmente perdido e desinformado, seja a respeito do que ocorreu no perímetro urbano ou sobre a própria região em si. Outro detalhe que chama a atenção é a fala do governo, tanto por meio do secretário como do próprio comandante-geral da Polícia Militar, de que existia um plano de contingência para combater a ação terrorista dos marginais que atacaram a cidade. Ora, se isso por si só não fosse um absurdo, a desgraça nunca vem sozinha, as autoridades informaram que a inteligência já tinha conhecimento de que esta ação criminosa iria ocorrer, só não sabiam quando. A minha pergunta (e tenho certeza de que a de vocês também) é: ninguém imaginou que seria uma boa ideia pegar o telefone e avisar o 16ºBPM dizendo: “olha, vamos fazer uma reunião, comandante? A inteligência diz que a cidade pode sofrer um ataque de uma quadrilha”.
O Comando-Geral também escancarou na imprensa paranaense nesta quarta-feira (20) de que havia um amplo plano de contingência para o ataque e enfatizou que a PM estava preparada para o ataque. O Comandante Hudson também afirmou de que é o efetivo em serviço no momento do ataque é aquele que inicia a resposta e que é esse plano de contingência que estabelece direções, reforços e outros aspectos da resposta aos ataques das mais diversas naturezas. O Comandante também afirmou que o serviço reservado da Polícia Militar, setor de inteligência conhecido popularmente como P2, tinha certeza de que o ataque iria ocorrer, só não sabiam quando e onde; a certeza existia em função de comunicações da inteligência da PMPR com os estados de Santa Catarina e São Paulo, após ataques ocorridos nas cidades desses estados, Criciúma e Araçatuba, respectivamente.
Uma fonte anônima revelou a esta coluna de que os policiais não tinham conhecimento do tal plano de contingência e que foram pegos de surpresa; em entrevista à RPC, um policial que prefere não se identificar, disse que ficou sabendo do ataque por meio de grupos de WhatsApp, em que os próprios policiais pediram ajuda aos “irmãos de farda”, conta o PM. Outra fonte ouvida pela coluna diz que os policiais tinham somente avisos de “caixeiros” – criminosos que atacam e explodem caixas eletrônicos – que poderiam atuar em cidades da região, onde o efetivo policial é menor; a fonte ainda revela que nesses municípios, os policiais estavam de prontidão, com armas longas, esperando para reagir a um ataque em caixas eletrônicos e que estavam deixando as viaturas estacionadas na frente das companhias para “retardar” o efeito de possíveis rajadas de tiros. De acordo com informações, esse alerta sobre possíveis ataques à caixas eletrônicos foi emitido há pouco mais de três semanas, mas nunca foi dito nada aos PMs ou a oficiais superiores que a sede do batalhão estava para ser atacada ou que a cidade e a empresa de valor ou bancos, seriam alvos dos marginais. No momento do ataque, o efetivo era para o feriado de Páscoa; 5 viaturas e 9 policiais estavam na escala.
O Comandante também revelou na entrevista que nem todos os policiais têm conhecimento sobre o plano de contingência, somente alguns oficiais e estes se encarregam de dar as ordens caso o plano seja colocado em prática. Comandante Hudson disse também que a resposta da Polícia e o tal plano de contingência foi o que frustrou a ação dos meliantes, pois a rápida resposta e o número de viaturas que chegaram em apoio foram o fator surpresa, pois segundo ele, os marginais estavam preparados, por exemplo, para quatro viaturas e de repente chegam dez, além de policiais a paisana. Um policial – que prefere não se identificar – disse que o apoio nem mesmo foi comunicado por oficiais da PM em Guarapuava, mas pelos colegas que estavam na linha de fogo e que pediram ajuda por meio de grupos de mensagens entre policiais que atuam na região.
Nesta quarta (20) o Governador do Paraná – Ratinho Jr. (PSD), disse que a PM respondeu muito bem e elogiou o trabalho dos policiais em Guarapuava, ressaltando também que a PM do Paraná é uma das mais preparadas do país, inclusive com armamento. A fala do Governador, entretanto, é um tanto quanto duvidosa, pois desde o governo Beto Richa, não há um investimento significativo no efetivo policial e em equipamentos de qualidade como armas ou blindados para a PM. Em Foz do Iguaçu, uma empresa de valores da mesma rede da que foi atacada em Guarapuava, doou um veículo blindado para a PM, segundo revelou o Deputado Soldado Fruet, na tribuna da ALEP na terça-feira. De acordo com o Deputado, a Polícia (governo) não aceitou o veículo blindado, pois não julgou necessário o emprego do mesmo no trabalho policial em uma das cidades mais violentas do estado, em região de fronteira com o Paraguai.
A verdade é que nenhuma instituição policial do país está preparada para reagir a assaltos desta proporção, o crime organizado sempre surpreende a força policial por falta de estratégias e táticas do Estado que comanda essa força policial. O 16º BPM possui 360 policiais para uma população de quase 500 mil habitantes (Guarapuava, Pinhão, Turvo, Campina do Simão, Candói, Reserva do Iguaçu, Foz do Jordão, Pitanga, Manoel Ribas, Santa Maria do Oeste, Mato Rico, Nova Tebas, Boaventura de São Roque, Prudentópolis, Laranjeiras do Sul, Marquinho, Rio Bonito do Iguaçu, Nova Laranjeiras, Porto Barreiro, Cantagalo, Virmond, Goioxim, Palmital e Laranjal), um total de aproximadamente 1.250 habitantes para cada 1 dos 360 policiais.
Na semana retrasada, durante uma fala no Plenário da Câmara Municipal de Guarapuava, o Tenente-Coronel Joas Lins, ex-comandante do 16º BPM, disse que a companhia de Laranjeiras iria a status de CIA Independente, o que reduz a abrangência do 16º BPM de 24 para 14 municípios. O destacamento de Pinhão também terá modificações e será transformado em Companhia Destacada, que passa a responder pela sede – Pinhão, Reserva do Iguaçu, Foz do Jordão e dois distritos (Faxinal e Segredo).
Na tarde desta quinta-feira, o jornalista Roberto Lobo antecipou em seu site que o Tenente-Coronel Joas Lins não era mais o comandante do 16º Batalhão de Polícia Militar de Guarapuava. O substituto, conforme divulgado em reportagem da jornalista Mariana Valente (Portal RSN), é o Major Flávio Ferraz, que respondia pelo batalhão na cidade de Irati. Ironicamente, uma das desculpas utilizadas para a troca do Comando do 16º BPM quando da saída do Major Cubas, era de que o posto de Comandante de Batalhão – no Paraná – deveria ser ocupado por Coronel ou Tenente-Coronel, uma patente acima de Cubas. Hoje, o novo Comandante do 16º BPM volta a ser um Major, até que o governador brinque com os policiais de novo e faça outra substituição. Na manifestação pacífica que aconteceu na manhã desta quinta-feira, 21, familiares de militares fizeram duras críticas ao governador, ao secretário de segurança pública e ao comando-geral. Uma fonte anônima ouvida pela coluna relatou que a maioria dos policiais reclamavam da falta de diálogo do ex-comandante Joas com seus pms.
Os criminosos chegaram à cidade por volta de 22h da noite de domingo (18) e por volta de 22h30 iniciaram-se os ataques simultâneos no 16º BPM (Alto da XV) e na sede da empresa PROTEGE (Proforte), no bairro Dos Estados. Entre as 23h30 e 00h30, os marginais descobrem que os policiais na rua estão reagindo ao assalto e então começa a fuga. Próximo das 00h30 – 00h40 – início da madrugada de segunda, os pms entram em confronto com os meliantes na região do aeroporto e a partir desse momento até por volta de 03h da madrugada, o confronto se desenvolve na área rural no distrito da Palmeirinha, até que às 05h45 a PM confirma que os criminosos fugiram.
Na fuga, oito carros importados foram deixados para trás: um Tiguan (Volkswagen); um ASX (Mitsubishi); um Outlander (Mitsubishi); uma Range Rover (Land Rover); um Freelander (Land Rover); duas Santa Fé (Hyundai) e um Virtus (Volkswagen). Ao que se sabe, os oito carros são blindados e no mercado nacional o preço dos oito carros juntos (todos 0km), ultrapassa o valor de R$ 1,5 milhões. Além dos carros, a polícia também apreendeu pelo menos R$ 300 mil em armas, sendo que foram deixadas para trás: 3 metralhadoras antiaéreas (.50) no valor estimado de R$ 70 mil cada uma; 1 fuzil AK-47, de valor estimado em R$ 6 mil; 4 fuzis 5,56, custando cada um R$ 12 mil e uma pistola 9mm com seletor de rajada, também custando R$ 12 mil. Todas essa armas são de uso restrito do exército no Brasil, além delas, foi apreendida também uma espingarda calibre 12 modelo Combat, de uso permitido, avaliada também em R$ 12 mil.
O advogado-presidente da Associação Brasileira de Empresas de Transporte de Valores disse em entrevista o G1 Paraná que explicou que as armas usadas no ataque em Guarapuava geralmente são obtidas por dois meios: a compra – tráfico de armas ou alugadas de um terceiro; no caso da perda, o advogado explica que o preço é ainda mais alto, pois os criminosos precisam ressarcir o prejuízo para o proprietário da arma.
A posição geográfica do Brasil com suas fronteiras com países como o Paraguai, A Argentina e a Bolívia facilitam a entrada de drogas, armas e de carros roubados no país. É prática comum do crime organizado roubar carros de luxo no Brasil e atravessá-los pela fronteira onde se tornam carros legais por meios ilegais e depois retornam ao Brasil para cometer crimes. Muitos desses carros não possuem alerta de roubo no Brasil e apresentam uma documentação fria, isto é, falsa; no que diz respeito ao tráfico de armas, o mercado paraguaio é o favorito para entrada de armas do tráfico internacional que tem origem dos mercados asiáticos e do leste europeu e como destino a África e a América Latina; às vezes muitas dessas armas são desviadas das forças armadas de países vizinhos e entram no Brasil, assim como ocorre o roubo de armamento do exército brasileiro que é vendido para os países vizinhos.
A ação terrorista do último domingo deixou um rastro de destruição em Guarapuava e uma população inteira com um receio de que a quadrilha possa retornar em pouco tempo, uma vez que segundo as autoridades, nada foi levado do cofre da empresa de valores. A ação vitimou pelo menos três policiais e um civil; os policiais são os cabos Bonato (que levou um tiro na perna e está se recuperando); o Cabo Ricieri Chagas (que levou um tiro na cabeça e está hospitalizado em estado grave, de acordo com a família). Já o cabo Osmar Wendler nasceu de novo, pois o tiro que alvejou o militar seria fatal, se não fosse pelo celular no bolso de seu colete balístico. Wendler foi o responsável por socorrer os companheiros feridos mesmo com a viatura em estado de destruição.
Os desejos desse colunista e pensamentos positivos neste momento estão com o Cabo Ricieri e com toda a sua família, para que se recupere e volte para os seus amigos e familiares com plena saúde. Deixo registrado também o meu agradecimento e admiração por todos os pms de Guarapuava.
• Historiador •
Formado pela Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro;
Professor de História e Sociologia;
Pesquisador.
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