Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil
17/12/2021 – 07:52:09
Luiz Felipe
Uma súbita e rara formação de tornados têm chamado a atenção do mundo para os Estados Unidos nos últimos dias. Embora esse seja um fenômeno conhecido no país, dessa vez foi um tanto quanto raro, pois a chamada “temporada de tornados” é comum na primavera estadunidense (outono brasileiro) e agora os tornados chegaram no começo do inverno (verão brasileiro). Mais de 30 tornados varreram cidades do norte e centro-sul dos EUA, causando estragos nos estados do Tennessee, Mississippi, Arkansas, Kentucky, Misouri e Illinois.
Os tornados são fenômenos meteorológicos assustadores e com grande poder destrutivo, se manifestam através de um imenso cone de ar, cuja extremidade mais fina toca o chão e a oposta se ergue a mais de 70 metros e que gira a incríveis 480 km/h ou até mais, dependendo da categoria. Os diâmetros dos tornados vão dos mais “simples” (75 metros) até os mais poderosos e perigosos, que podem ter até 1,5 km de diâmetro, podendo percorrer até 100 km de distância, como ocorreu na última sexta, nos EUA.
Na maioria dos casos, a formação dos tornados está associada com as tempestades intensas da primavera do Hemisfério Norte, que produzem violentos ventos, elevada precipitação pluviométrica e granizo – no caso de terrenos mais planos. A interação entre duas grandes massas de ar ascendentes e descendentes, com pressões e temperaturas diferentes, formam o cenário perfeito para desencadear uma série de tornados. Essas condições meteorológicas são mais comuns no meio-oeste dos Estados Unidos e também no centro-sul da América do Sul.
Muito embora o Brasil seja apontado como um país com um clima sem grandes alterações ao longo das quatro estações do ano, as pessoas costumam brincar dizendo que o único desastre natural do Brasil é o próprio brasileiro. Todavia, assim como o furacão Katrina ou o Sandy, uma tempestade de grande poder destrutivo começou a causar estragos, mal sabiam que aquela tempestade não seria passageira e que o seu rastro de destruição seria longo e faria muitas vítimas. O primeiro local a ser tocado pelo furacão Jair foi a pequena cidade de Glicério, um lugarzinho simpático de pouco menos de 5 mil habitantes, encravado no noroeste do estado de São Paulo.
O primeiro registro do estrago foi feito em 21 de março de 1955, momento em que o furacão Jair passa a ter nome e um caminho começa a ser trilhado. O nome, contam, foi sugestão de um vizinho para homenagear Jair Rosa Pinto, meia-esquerda dos bons da seleção brasileira que perdeu para o Uruguai, no Maracanã, em 1950. A ideia inicial de sua mãe, Olinda, era de que o pequeno tornadinho se chamasse apenas Messias [Bolsonaro], pois segundo relatos, a gravidez havia sido complicada e a pobre mãe atribuiu o nascimento de Jair a um milagre de Deus. O apelido sem graça que hoje lhe atribuem, Mito, nada tem a ver com feitos heroicos do passado, mas sim deriva da palavra “palmito”, apelido original dado a Jair pelos amigos: alto, raquítico e branco feito palmito.
O gosto pelas forças armadas apareceu lá pelos 15 anos, quando Jair tornou-se x-9, ou cagueta, no bom português e ele e os amigos passaram a informar os militares sobre possíveis esconderijos de Carlos Lamarca, guerrilheiro que lutava contra a ditadura militar naquele momento. Aos 17, Jair Bolsonaro entrou para a Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), porém, migrou para a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), onde se formou em 1977. Já na década de 1980, Bolsonaro foi preso por reclamar dos baixos salários dos militares durante o governo de João Figueiredo, o último dos ditadores a ocupar o poder.
De inconformado em coluna de jornal, Bolsonaro passou a aspirante a terrorista. Tinha o plano de plantar várias bombas pela cidade do Rio de Janeiro, inclusive na Vila Militar, como forma de intensificar seu protesto. Visando obter apoio, Bolsonaro contou sobre a operação “Beco Sem Saída” a uma repórter da revista Veja e esta entregou o plano ao Ministro do Exército. Bolsonaro e outros colegas foram levados a julgamento no Superior Tribunal Militar, que absolveu todo mundo por falta de provas. Tempos depois, uma investigação da Polícia Federal iria corroborar a investigação da Polícia do Exército, atestando que Bolsonaro tinha desenhado o croqui da operação, sinalizando o local em que cada bomba seria plantada. Naquele mesmo ano, Bolsonaro entraria para a reserva do Exército como capitão e daria início à sua carreira política como vereador da cidade do Rio de Janeiro; foi o estado do Rio que o elegeu deputado federal entre 1991 e 2018, quando candidatou-se à Presidência da República e venceu em meio a uma eleição manipulada pelo judiciário, sem comparecer aos debates e levando uma facada, que é no mínimo suspeita.
E lembram do que eu disse lá trás, sobre o desastre natural do Brasil ser o próprio brasileiro? Jair Messias Bolsonaro é a prova de que esta afirmação é verídica, o furacão Jair causou imensa destruição; o caos, o pandemônio, os incêndios, os alagamentos e a devastação completa causada pelos tornados e furacões nada são se comparados ao estrago feito pelo furacão Jair. O estrago causado pelo furacão Jair é um estrago que demora muito tempo para ser consertado, paliativos são feitos todos os dias, mas as feridas abertas ainda sangram e muito. Para um país que havia começado a se recuperar nos últimos dez anos, até que estávamos indo bem, mas o furacão Jair varreu tudo do mapa, pior do que o Katrina ou Sandy fizeram aos Estados Unidos.
O furacão Jair subestimou a maior crise de saúde que o mundo já enfrentou desde a gripe espanhola, que deixou um saldo de 50 milhões de mortos, quase o mesmo da Segunda Guerra Mundial, entre 1939 e 1945. O furacão Jair semeou sementinhas nazifascistas, aquelas mesmas que Brecht tanto nos alertou, a da cadela do fascismo que está sempre no cio, pronta para reproduzir. É o discurso justificando o injustificável, o que não possui defesa; é o discurso da mulher que foi estuprada porque estava com uma roupa provocante ou porque apanhou do marido porque estava muito solta, exibida; é aquele discurso que sugere que o negro é bandido, tem cara de ladrão, o mesmo que sugere que se o seu filho “tiver um jeitinho meio afeminado, é só dar uma surra que endireita”, é o que acha que pode escolher quais mulheres merecem ser estupradas e quais não merecem, o que ameaça jornalistas, debochada de pessoas com ventilação mecânica nas UTIs lotadas dos hospitais pelo país afora. Essa é a sementinha nazifascista plantada pelo furacão Jair, que utilizou dos ventos e lançou longe suas ideias, que se espalharam rapidamente feito fogo sobre mato seco.
Mais de 600 mil são as vítimas do discurso do furacão Jair, sejam elas apoiadoras arrependidas e que agora perderam a vida ou – na maioria – vítimas do discurso homicida, negacionista, da anticiência, antivacina, daqueles que ligam mais para a merda da economia do que para as vidas que foram ceifadas no país, seja pelo vírus ou pela fome, ambos pela omissão do governo e de seu chefe, o Presidente da República, que se converteu no furacão Jair. Bem pior do que o furacão Jair, ainda é encontrar aqueles que sustentam a marcha da destruição, que são os responsáveis pela abertura da caixa de pandora, os falsos moralistas, os defensores da família que possuem amantes, que defendem o casamento, mas que traem suas esposas na calada da noite pelos bordéis da cidade e depois tornam-se legítimos portadores da verdade soberana pelas redes sociais. Eu abomino quem ainda defende este projeto falido, fracassado e homicida disfarçado de governo federal e, para quem fica calado e faz de conta que não vê nada, me prendo a Dante Alighieri: “os lugares mais sombrios do inferno são reservados àqueles que se mantiveram neutros em tempos de crise moral”.
E se um dia quiserem perdão, que peçam a Deus, o mesmo que vocês utilizaram o nome para condenar, julgar, atirar pedras, explorar a fé alheia e se autodenominarem salvadores da Pátria. Peçam o perdão dele, porque o da História vocês jamais terão. A História gravará para sempre nas páginas de cada livro os verdadeiros judas que vocês foram ao venderem seu país e seu povo por míseras 30 moedas de prata.
• Historiador •
Formado pela Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro;
Professor de História e Sociologia;
Pesquisador.
13/03/2023 – 08:24:34 Luiz Felipe Em ritmo bem perdido e totalmente fora do que pedem milhões de professores por todo o...
06/03/2023 – 07:42:52 Luiz Felipe Durante uma corrida pela cidade comento com o motorista do app que está me levando ao...
28/02/2023 – 08:12:27 André Luís A. Silva É muito comum e, provavelmente, você já deve ter ouvido falar que no Brasil...
15/02/2023 – 09:31:26 Luiz Felipe Na última semana, o governador Ratinho Jr. deu mais um passo em direção à...