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O grito da Independência: o furacão que desestabilizou a base de Celso Góes

Foto: Divulgação/Ascom Câmara Municipal

13/04/2022 – 09:02:17

Coletivo Veio do Saco

Às margens da Tribuna da Câmara, Gilson da Ambulância (SD) deu o grito de independência e fez nascer uma terceira bancada na Câmara Municipal de Guarapuava na noite de ontem (12). Conforme antecipado pela redação do iPolítica, a bancada conta com 11 membros, sendo eles: João Napoleão, Nego Silvio, Bruna Spitzner e Paulo Lima (PODEMOS); Rodrigo Crema, Marcelinho e Sidão Oreiko (União Brasil) Gilson da Ambulância (SD); Pedro Moraes (Republicanos); Dognei (PDT) e Vardinho (CDN).

Em uma sessão que durou pouco mais de duas horas, seja espetáculo ou não, o pronunciamento do vereador Gilson da Ambulância causou estranheza ao público presente nas galerias (composto quase que na maioria por PMs e seus familiares que estavam lá para receber homenagens). O vereador começou a fala nomeando os novos colegas de bancada, que segundo ele serão independentes, mas ainda amigos do prefeito. O que parece ser o hino da nova bancada é a ampliação do diálogo e discussão dos projetos enviados pelo Executivo para a Casa de Leis, uma tecla na qual as vereadoras de oposição já têm batido há algum tempo.

Os ânimos estavam acirrados na sede do Poder Legislativo Municipal. Logo na abertura dos trabalhos, o vereador e atual presidente da Casa, Vereador João Napoleão, disse: “Nós quando estamos em campanha, nós falamos que aqui é a Casa do povo e aí nós estamos tirando o direito do povo vir segunda e terça […] deixar de ouvir a população, deixar de ouvir um convidado, ceifar o direito [da palavra], eu acho que isso nós não vamos fazer, pelo menos enquanto eu estiver aqui”, declarou o vereador. O presidente comentava a respeito da negativa de alguns camaradas em ceder o tempo da tribuna para que o convidado da noite, o comandante da PM, fizesse a explanação acerca dos trabalhos da corporação no primeiro trimestre de 2022.

Quando a temática foi a educação infantil, sobrou também para o ex-vereador Valdomiro Batista, vulgo Jabur do Motocross. O presidente João Napoleão lembrou que o então vereador, quando presente na Casa, era um crítico ferrenho da administração César Filho e do atual prefeito Celso Góes. A bem da verdade é que durante a campanha, Jabur criticou abertamente a união das famílias Carli e Silvestri para alçar o voo de Celso Góes e Samuel Ribas; e o presidente da Câmara lembrou, que apesar das críticas, Jabur faz parte da atual administração com um cargo de confiança na Secretaria de Viação, Obras e Serviços Urbanos. Disse Napoleão: “Agora é o tempo de cobrar do [ex] vereador Jabur, esse vereador quando aqui esteve, foi a pessoa que mais criticou a administração do prefeito César Filho e hoje ele faz parte da administração; criticou engenheiros, criticou os funcionários, hoje ele tem que fazer, hoje ele trabalha na administração, aliás, ganhando bem e ‘tá’ na secretaria de obras, ‘tá’ no lugar certo, ele pode pegar uma equipe e fazer uma creche. Ele [Jabur] falou que poderia mandar embora os engenheiros, que ele cuidava […] ele tem que sentir na pele todas as besteiras que ele falou, todos os ataques que ele fez ao Cesar Filho, inclusive ao prefeito Celso Góes […] Para o Jabur não ficar aí fazendo rolo, ‘picaretiando’, dá um servicinho para ele”. O presidente e os demais vereadores debatiam a respeito da construção de um Centro Municipal de Educação Infantil no bairro Jordão.

O climão que rolou com o pronunciamento do vereador Gilson também fez render críticas a alguns secretários do Poder Executivo, que não foram nominados pelos legisladores. Não é de hoje que os vereadores vêm trazendo reclamações do tratamento dos secretários para com os membros do Poder Legislativo. Em vários relatos, os vereadores reclamavam da falta de espaço e diálogo com muitas pastas, a situação se agravou ainda mais quando vereadores da oposição foram mais bem atendidos do que os vereadores da base do prefeito. No plenário, o vereador Nego Silvio lembrou que a população tem cobrado os vereadores e que estes, ao entrarem em contato com secretários, são ignorados nas mensagens de WhatsApp; o vereador também lembrou que os secretários não estão na Disney e que devem respeito aos membros do Poder Legislativo.

O vereador Vardinho, por sua vez, destacou que apesar de ser da base de sustentação do governo Góes, vota de acordo com os interesses da população e também cobrou respeito aos membros do Legislativo: “Mas temos sim que valorizar, não valorizar dois ou três, valorizar os 21. Não importa que a Professora Terezinha e Professora Bia sejam de oposição, tem que valorizar porque elas cuidam de uma parcela da população de Guarapuava, então tem que escutar todos os vereadores”. E para finalizar, o vereador – ironicamente – deu razão aos secretários: “Eu também, Nego Silvio, concordo com parte da sua fala e dou razão aos secretários muitas vezes, eles não têm tempo de estar nos visitando, pois não saem de Curitiba, acho que eles têm que ser deputado e não secretário, aí nós vamos lá nos gabinetes” declarou Vardinho.

Pedro Moraes (Republicanos) lembrou da importância de cumprir o papel do Legislativo, respeitando a independência entre os poderes. Lembrou que a formação do bloco independente é também para respeitar o rito de tramitação dos projetos do Poder Executivo que chegam ao Poder Legislativo, na esteira do que disse Gilson da Ambulância.

As perguntas que ficam no ar após uma sessão turbulenta como a da noite de ontem: como fica a base do prefeito Celso Góes? O bloco independente é realmente independente ou só quer dar um basta no passeio desregrado de alguns secretários do Poder Executivo? Pelo que muitos legisladores deixaram claro, o Clube dos Onze não é oposição ao prefeito Celso Góes, mas tornará a vida do Chefe do Poder Executivo um pouco mais dura na Câmara Municipal. Por outro lado, falar até papagaio fala, o povo espera por ações imediatas, quer ter sua voz respeitada no Parlamento Municipal.

A esperança dos mais de 180 mil guarapuavanos é que seus pedidos sejam atendidos, que seus impostos sejam bem aplicados. Há quem diga que esse bloco já nasceu de umbigo roxo como dizem por aí, isto é, nasceu morto e que não vai até o final do ano nesta posição independente. Outros, porém, acreditam que a formação do bloco tem como alvo a eleição da presidência da Casa que ocorrerá esse ano. Assumindo que sejam três os candidatos, quem fizer oito votos é o novo presidente da Casa; a bancada de apoio que até então contava com 18 legisladores agora tem apenas sete apoiadores, além de três oposicionistas e dos agora 11 independentes. Outra pergunta que fica: o Clube dos Onze realmente sabe o significado da palavra independência? Independência pressupõe agir por vontade própria, sem estar amarrado a outros ou seguir a maré, dançar conforme a música. Na verdade, pensando no cenário eleitoral, é até surpreendente que este bloco não tenha surgido antes, pois os votos que os pré-candidatos terão em outubro, virão das bases dos 21 vereadores e vereadoras, é uma matemática simples.

Se o tom de motim se mantiver em alta, os dias de sossego do prefeito Celso Góes não vão durar muito tempo. O segredo de qualquer boa aliança é saber como controlar seus aliados sem parecer autoritário; Celso Góes está longe de ser um político anfíbio como César Silvestri ou um estrategista e orador de primeira como Fernando Carli, que – aliás – era capaz de convencer um intolerante à lactose a comprar uma vaca e beber leite todo dia. Deram a Celso Góes a tarefa quase impossível de dar uma nova cara que não lembrasse Carlismo ou o Silvestrismo, mas esqueceram de esconder a mão que balança o berço de Celso Góes; o atual ocupante do gabinete com piso impecável de porcelanato no último andar do Paço Municipal até tenta dar uma cara nova à sua gestão, tenta dizer que não está preso ao tradicionalismo político da cidade, mas herdou metade dos secretários da antiga gestão. Das 16 pastas com status de Secretaria, pelo menos a metade é atrelada ao ex-prefeito César Filho, enquanto outros são aquisições por parte de Fernando Carli. Ontem o recado foi dado, seja para Celso Góes ou para seus secretários, o Legislativo tem o poder de balançar essa árvore para ver o que cai dela e pode cortar seus galhos a qualquer momento; mas não são todos que se põem a pensar em momentos como esse. Quem será tolo de morder a mão que primeiro o alimentou? É uma via de mão dupla: dispensa os secretários para agradar a base e mantém seu apoio, ou bate o pé e fecha as portas do Executivo e aposta a última moeda que tem.

Cada prefeito deixou uma marca na cidade de Guarapuava, seja boa ou ruim, alguns ninguém sabe que existiu e comandou a cidade, outros viraram nome de rua, nomes de escola, de ginásio, de crianças etc. Cândido Pacheco Bastou ergueu a atual sede da Prefeitura Municipal na Rua Brigadeiro Rocha; Vitor Hugo Burko até possuía uma visão para a cidade e assim nasceu o Residencial 2000 e o Morro Alto; Burko seria condenado tempos depois por irregularidades destes projetos. Burko também foi responsável pelo pior tipo de asfalto que já existiu em Guarapuava, o famoso antipó, algo que os guarapuavanos odeiam até hoje; foi na gestão de Burko que foi construída a Praça da Fé, uma antiga pedreira que era um verdadeiro ponto de desova de cadáveres e um lugar que as pessoas procuravam para tirar a própria vida.

Fernando Ribas Carli descentralizou a saúde guarapuavana e criou os postos de saúde nos bairros, hoje chamadas de Unidades Básicas de Saúde. Guarapuava tinha naquela época cinco hospitais (São Vicente, Santa Tereza, Nossa Senhora de Belém, São Judas e São João), hoje contamos com um por inteiro e outro que se arrasta dependendo da vontade e bondade do povo. César Roberto Franco não entrou para as páginas da história guarapuavana; César Filho tinha um ar de inovação e até trouxe grande desenvolvimento tecnológico para Guarapuava; a saúde até que não era ruim não, as Unidades de Pronto Atendimento funcionavam muito bem, mas as UBS’s nem tanto. Mas os guarapuavanos nunca conheceram a clínica do idoso e o Pronto Atendimento Infantil, que ficou só na propaganda com a voz chata da Larissa Manoela. César também prometeu internet grátis em toda a cidade; na época era um luxo.

Passados dezesseis meses de governo, Celso Góes ainda não disse a que veio, sua administração ainda não teve uma grande lei ou um grande projeto para a cidade. Ele tem colecionado algumas críticas desde a eleição; os números do último pleito mostram, na verdade, que nem Celso e nem Antenor estavam com apoio maciço da população; pois em uma cidade com 90 mil votos válidos, um terço disso para o vencedor é um recado e alguns não entenderam. A esperança para os apoiadores do atual prefeito, é a revitalização da infraestrutura urbana como a revitalização do Parque Jordão, a transformação da cidade em um polo turístico e a recuperação de estradas, além da pavimentação de 100% da malha urbana. Góes tem pouco mais de dois anos para cumprir seus objetivos, mas se a coisa caminhar do jeito que está, repetirá o curso de César Franco e será o prefeito de um único mandato, que caiu de paraquedas na prefeitura, lembrado como uma nota de rodapé nos livros de história da cidade.

Coletivo Veio do Saco

O Coletivo Veio do Saco foi formado por integrantes da sociedade civil que acompanham, religiosamente, as sessões da Câmara Municipal de Guarapuava, com o intuito de fiscalizar as ações do Poder Legislativo. Essa figura mitológica das lendas guarapuavanas, que sempre assustou crianças mal criadas, a partir de agora vai assombrar os políticos também.