Foto: Marco Senche/Wikimedia Commons
09/05/2023 – 12:25:29
Luiz Felipe
Uma das maiores cantoras e compositoras do rock nacional morreu no fim da noite desta segunda-feira (08), na cidade de São Paulo. Rita Lee enfrentava, desde 2021, um câncer no pulmão e fazia tratamento contra a doença. Segundo nota divulgada em seu perfil oficial nas redes sociais, ela morreu em casa, “cercada de todo o amor de sua família, como sempre desejou”. O texto também diz que, de acordo com a vontade Rita, o corpo será cremado em cerimônia particular.
O início
Filha de um dentista estadunidense radicado no Brasil e uma pianista italiana, Rita Lee Jones nasceu em São Paulo, no dia 31 de dezembro de 1947. Aos 16 anos, já sabendo piano por incentivo da mãe, Rita integrou o primeiro conjunto, um trio vocal feminino chamado Teenage Singers.
Sempre defensora da liberdade e sem espaço para falso moralismo, Rita foi peça fundamental ao ajudar incorporar a revolução ao rock no Brasil, sendo uma das principais difusoras do Tropicalismo ao lado de outros grandes nomes da música popular brasileira como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Gal Costa e Nara Leão.
Entre 1964, após fundar o “Six Sided Rockers”, Rita fez modificações no estilo e no nome do grupo e, dois anos depois, em 1966, nascia Os Mutantes, grupo formado inicialmente por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias. Com Os Mutantes, que seriam internacionalmente reconhecidos, Rita e os companheiros de banda deram a alma ao tropicalismo que já estava em cena ao unir a psicodelia com os ritmos nacionais bem regionalizados.
Rita ficaria nos Mutantes até 1972, período que coincidiu com o fim do relacionamento entre ela e Arnaldo, que resultou não só no fim do casamento como também na saída de Rita da banda. Foi com a produção de Arnaldo Saccomani que a carreira solo de Rita decolou após a saída dos Mutantes; o próprio Arnaldo Saccomani reconheceu que Rita era totalmente desvalorizada pelos Mutantes e que sem ela a banda não era nada.
Referência para o rock brasileiro desde 1966 e vencedora como sempre foi, em 2001, Rita levou o Grammy Latino de melhor álbum de rock em língua portuguesa com o maravilhoso “3001”; em 2022 ela recebeu o prêmio de Excelência Musical pelo conjunto de obra. Com 40 álbuns, sendo 34 em carreira solo, Rita Lee eternizou na música brasileira sucessos de venda e de crítica como o hit “Mania de Você”, de 1979, além de “Colombina”, “Agora Só Falta Você”, “Desculpe o Auê”, “Ovelha Negra”, “Lança Perfume”, “Ando Meio Desligado”, “Amor e Sexo”, “Reza”, entre outros tantos sucessos que levariam mais duas páginas para mencionar aqui.
Sem aturar desaforos, em 2012, durante o último show realizado em Sergipe, Rita discutiu com um policial e foi conduzida para a delegacia por desacato, foi ouvida e liberada. Embora o último show oficial tenha sido este, ainda em 2012, ela fez mais uma apresentação em Brasília e cantou no aniversário de São Paulo em 2013, com o público indo a loucura em uma das maiores apresentações que a cantora fez.
Seu último álbum de estúdio, também de 2012, trouxe inéditas que logo caíram no gosto popular, principalmente com a música de trabalho “Reza”, que virou tema de novela, um clip e foi uma das faixas mais tocadas nas rádios do país naquele ano. Do mesmo álbum, destaca-se também a maravilhosa canção “Tô Um Lixo”.
A Rita fora dos palcos
Em 2016, “Rita: uma autobiografia” foi lançada e foi um sucesso de vendas, assim como seus discos. No livro, Rita contou aos fãs um episódio que até então poucos sabiam: o abuso sexual durante a infância e que foi cometido por um técnico que foi em casa consertar a máquina de costura de sua mãe.
Defensora dos animais, Rita também escreveu uma série infantil – “Dr. Alex”, de 1983 e relançada em 2019, que conta a saga de um cientista alemão defensor dos animais que transforma-se em um ratinho para se livrar de um grupo que não respeita os animais e nem o meio ambiente. Rita sempre atuou em defesa da causa animal. Além da série infantil de Dr. Alex, Rita também escreveu outros livros infantis como “FavoRita”, “Dropz”, “Storynhas”. Além da carreira de escritora, cantora e compositora, Rita também era atriz e das boas, tendo atuado em grandes sucessos de audiência da TV brasileira como “Top Model”, “Malu Mulher”, “Vamp” e “Celebridade”.
O Legado
Sempre irreverente, criativa, sincera e sem hipocrisias, Rita Lee deixa um legado para a cultura brasileira totalmente inimaginável, contribuições desde composições simetricamente perfeitas até coisas que beiram o surreal e o desalinhado, como o rock sempre propôs. Artista de mão cheia, é até um pecado não citar o que todos sabem: Rita foi uma das maiores, senão a maior, cantora que o Brasil viu em cena.
Com mais de 55 milhões de discos vendidos, Rita Lee tem os maiores sucessos de vendagem em todo o país e fora dele também, ficando atrás – em solo nacional – apenas de Tonico e Tinoco, Roberto Carlos e Nelson Gonçalves.
Rita Lee é um marco para gerações, seja a dela própria, as que vieram depois e as que ainda virão. Rita é um marco de originalidade e criatividade dentro da música brasileira, uma carreira gigante de uma gigante da música e da vida, que aproveitou cada minuto sem perder tempo com arrependimentos ou, como ela própria dizia, com “discurso de Madalena arrependida”, conforme entrevista ao jornalista Pedro Bial. Rita é tão única que os tempos verbais não permitem que ela seja colocada no passado como “fez” ou “foi”; Rita é e sempre será a eterna rainha do rock brasileiro.