Foto: Reprodução
25/07/2022 – 07:45:00
Luiz Felipe
Não é segredo para ninguém que chegada época eleitoral as ruas tornam-se um verdadeiro espetáculo teatral. É político para todo lado e um monte de gente com bandeiras erguidas atrás, geralmente com um carro de som dirigido por um sujeito de cara estranha e nada amigável, que parece ter o desejo de acelerar e passar por cima de todo mundo.
Um segredo contado aqui, sem revelar nomes, mas que todos já imaginam de quem se trata: em uma determinada eleição, uma deputada federal veio prestar apoio aos colegas correligionários durante uma caminhada em um dia de sol forte do verão. Lá pelas tantas, a deputada chama um dos assessores para que ele pegue algo para ela, instantes depois o rapaz retorna com uma sombrinha ao estilo belle époque passeando pelos parques de Paris em um dia quente. Pagou um belo mico.
Mas o melhor de tudo são os vídeos produzidos para as campanhas. Geralmente, todos escolhem o mesmo cartão postal e uma série de atores mirins e adultos que recebem uma merreca ou nada para participar como figurantes. A abertura é o que mais me emociona, pois quase sempre é uma criança ou um idoso sorrindo, em câmera lenta, enquanto o jingle da campanha começa calmo e depois vai aumentando a intensidade da canção. Pode perceber, no refrão, estão todos reunidos no centro de um parque ou de uma praça, agitando suas bandeiras ou aplaudindo, enquanto o candidato ou candidata sorri alegremente. Se for homem, está com uma camisa branca, com mangas dobradas na altura dos cotovelos, calça jeans meio desbotada e um coturno, mas não muito chique, pois precisa ser um calçado confortável para andar, mas um pouco batido, demonstrando que o candidato anda bastante pelas ruas, assim como o povo. Sapato? Jamais, somente no dia da posse e olhe lá. No dia a dia é botina, coturno ou um tênis comum. Terno e gravata só em solenidades muito, mas muito especiais. Para as mulheres, por outro lado, os marqueteiros ainda estão um pouco perdidos, pois tentaram criar a identificação da candidata com os eleitores e eleitoras.
Analisando a campanha da ex-presidenta Dilma Rousseff, os marqueteiros resolveram que a então presidenta iria se vestir como se vestia habitualmente nos dias em que estava trabalhando, um terno simples – aliás, Dilma sempre teve muito bom gosto para suas roupas; o problema eram os marqueteiros inventando moda. Manuela D’ávila tinha um olhar que os marqueteiros de Dilma não tiveram e deram à Manuela um ar muito mais jovial (porque ela é), sem contar que o ar vibrante ela sempre teve por natureza, ao mesmo tempo em que deixa transparecer toda a sua competência para encarar os debates e argumentar com suas ideias.
Ciro Gomes, por outro lado, resolveu apelar para a boa e velha camisa azul, que quase nunca falha. É um tom leve, alegre e que transmite tranquilidade, ainda que Ciro Gomes seja um surtado e um desequilibrado; aliás, Ciro adotou a mesma camisa que Aécio enquanto candidato. Boulos e Haddad, por outro lado, estavam mais próximos da população, não pelas vestimentas, mas pelo espírito simplista. São assim? Só quem convive sabe, mas a imagem que passam é de pé no chão, principalmente Guilherme Boulos, o famoso chão de fábrica, que conhece a realidade. Haddad, como professor, também não está tão longe da realidade como Geraldo Alckmin, que fazia cara de nojo ao morder um pastel ou João Dória com o suéter nas costas e as mangas envoltas no pescoço por cima da camisa social branca, o uniforme oficial do homem branco candidato. Mas aqui vai uma dica: contrate marqueteiros que trabalhem para você e não contra você, principalmente ao escolher camisas roxas ou amarelas, como fizeram com Eduardo Paes para a campanha; isso só desvaloriza a imagem e, na política, visual é tudo. É um produto a ser vendido para o eleitor.
Mas o meu momento favorito, após iniciadas as convenções partidárias, são as saídas dos candidatos para a rua, pois é chegada a hora de outro espetáculo popular: político que não sabe o que é arroz, feijão e batata frita no dia a dia, comendo pastel de feira e tomando caldo de cana ou o meu preferido, cafezinho puro em copo americano. Como diz meu pai, esse é um truque de marketing mais velho do que andar para frente, mas parece ser regra entre os candidatos e candidatas, principalmente os que disputam cargos no executivo, dar uma passadinha numa feira popular ou festinha de igreja – as famosas quermesses – e tomar um refresco ou um cafezinho. Houve um tempo que o café era muito elitizado, então o político tomava o que lhe ofereciam, precisava ser do povo. Aí, meu amigo, surgia de caldo de garapa – o famoso caldo de cana – a água gelada no meio daquele calor imenso e que foi servida de uma garrafa de refrigerante reaproveitada, que como todos nós cidadãos simples possuímos em nossas geladeiras. Aliás, uma observação importante: caldo de cana é a melhor invenção da humanidade, quem não gosta é louco.
Nas últimas eleições, Jair Bolsonaro (PL) quis inovar ou como dizemos nós aqui em Guarapuava, “quis inventar moda” e utilizou camisas de diversos times de futebol, calças típicas de um homem de 60 anos e às vezes uma camisa social com mangas curtas; não se preocupava com o cabelo cheio de gel e muito menos em se produzir para as campanhas. Em uma certa ocasião, o homem apareceu com uma camiseta do Palmeiras, de bermuda e de chinelo e pronto: era o humilde da vez. Depois teve o episódio do leite condensado com pão e o café com leite em copo americano. O povo – acostumado a ser iludido com bem pouco – comprou a ideia da humildade e viu um dos seus outra vez disputando a presidência. Sigilo nos gastos demonstram que não é bem assim.
Mas ainda na regra dos tutoriais, outro detalhe não pode faltar: aparecer em um canteiro de obras com um capacete de engenheiro (capacete branco) olhando para uma prancheta e depois olhando para o nada e apontando para mais nada. Depois – quando ainda era permitido – aparecia em escolas e comia junto com as crianças a merenda servida. Geraldo Alckmin era o especialista, apareceu em diversas escolas do estado de São Paulo, as mesmas de onde – supostamente – desviou dinheiro da merenda das crianças. Esse a gente conhece bem. O mesmo Geraldo Alckmin, era o mesmo que também abraçava senhoras e pegava crianças desconhecidas no colo nos comícios no interior do estado de São Paulo.
Quando o assunto é segurança – à exceção dos candidatos a presidente da República que são protegidos por policiais federais identificados, em outros cargos é comum a presença de policiais fazendo bico de segurança, todos o mesmo uniforme: calça jeans, camisa polo preta, azul ou verde e óculos escuros, além do relógio padrão militar no pulso esquerdo e o corte de cabelo também em padrão militar.
Além de tudo isso, outra peça maravilhosa – que foi proibida pelo TSE – eram os chamados “showmícios”, que os candidatos e partidos adoravam, pois era a maneira mais fácil de agradar ao povo. Assisti algum show de graça em época de campanha; em cidades maiores, era comum uma espécie de festival montado para o candidato onde se apresentavam diversos cantores e bandas, tudo pago adivinha como? Sim, com dinheiro público do fundo eleitoral que você e eu, trouxas, bancamos.
Pode ser que você esteja se perguntando: se isso é um truque velho, como as pessoas ainda caem? Pois é, foi a mesma pergunta que eu me fiz anos atrás e ainda continuo fazendo. E tem mais, se o político for jovem, com barba por fazer (barba bem-feita não é popular), pinta de galã de padaria e adora crianças, é o combo perfeito que todo marqueteiro adora e sabe bem como explorar: é o do povo, a força jovem e a renovação. Ele também vai apresentar sua família, provavelmente com uma avó falsa, isso porque a de verdade já morreu, mas família é família.
No mais, é torcer para que o TSE não proíba políticos de irem às feiras e de consumirem um pastelzinho e beber um caldo de cana, senão acaba a criatividade dos marqueteiros. Outro desafio para os caras do marketing é construir um jingle sem usar as palavras coragem, povo e mudança.
• Historiador •
Formado pela Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro;
Professor de História e Sociologia;
Pesquisador.
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