OPINIÃO

Por que “KKKKKK” e que risada é essa?

Imagem: Divulgação/Museu da Língua Portuguesa

08/11/2021 – 13:19:42

Luiz Felipe de Lima

A Língua Portuguesa, assim como qualquer outro idioma, tem as suas especificidades. No Brasil, há um leque com muita variedade nas cinco regiões do país e, cada região, também tem suas variações e é isso que faz com que a língua portuguesa seja tão incrível, com aspectos que não existem em outros idiomas. E quando o assunto é a linguagem da internet, a linguagem – seja no português, no inglês ou no coreano – também tem uma complexidade e mutação quase impossível de acompanhar.

E falando em internet, aqueles que nasceram entre 1980 e 1994, a chamada geração Y ou Millenials, pegaram um terreno muito fértil na internet, principalmente no Brasil. Naquela época, dizem, era tudo mato por aqui e as linguagens da internet eram muito diferentes do que conhecemos hoje. Os famosos “emojis” – criados no Japão na década de 1990, são pictogramas usados para transmitir uma ideia, um pensamento ou um sentimento e aí passaram a ser usados como forma de linguagem, de comunicação. Alguns mais conservadores, diziam que tínhamos voltado ao Antigo Egito e os emojis eram os nossos hieróglifos.

Além dos emojis, outra forma de expressar o riso – para os internautas brasileiros com mais de 24 anos – é o “KKKKKKK”, mas o que é isso e que tipo de risada é essa? Pois bem, o “KKKKKKK” surgiu como uma simples onomatopeia e tem origem na literatura brasileira, onde já foi muito utilizado. Durante muito tempo, a ideia de riso ou gargalha foi representada por esses emojis, pelo “KKKKKK” e para transmitir a situação do riso, da gargalhada, basta escrever “KKKKKKK” ou, nesse caso a minha preferida, que chamo de reação “testa no teclado”; basta ligar o Caps Lock e digitar várias letras aleatoriamente e o mais rápido possível, o que sair é lucro e é considerado uma risada. É “UAHEUAHEUAHEUA” ou “KKKKKKKK”

Mas com o passar dos anos, isso foi ficando para trás e a geração seguinte mudou totalmente. Emoji e “KKKKKKK” passou a ser coisa de gente velha, de tiozão da internet, de gente que não era descolada, era muito cringe; mas que diabos é cringe? Bem, traduzindo para o bom português, cringe é alguém velho e, velho, na interpretação da geração Z (nascidos entre 1995 e 2010), somos eu e você que já passamos dos 26 anos de idade. O cringe pode ser definido como aquela pessoa que usa a calça skinny, que gosta de Friends, que toma café da manhã, que guarda o pão na geladeira, que é fã de Harry Potter, usa All Star, usam o cabelo de lado e, com toda certeza, reclamam dos boletos para pagar.

O “KKKKKKK” embora não seja invenção da geração Z, passou a ser usado com mais frequência. O “KKKKKKK” já estava presente em grandes clássicos da nossa literatura e justamente com a intenção de destacar um riso… “cá..cá..cá” (na forma ‘aportuguesada’ de escrever). O “KKKKKK” sempre foi uma onomatopeia, isto é, a reprodução do som que ouvimos. As Histórias em Quadrinhos sempre foram cheias de onomatopeias e as redes incorporaram essa postura literária também. Dependendo da pessoa com a qual conversamos nas redes sociais, o “KKKKKK” nos permite ouvir a gargalha da pessoa a partir do som da voz daquela pessoa que já está gravado em nosso cérebro e isso nos causa uma reação de euforia.

E como a geração super antenada, os jovens, os milleanials riem na internet? Pode ficar pasmo, mas os bichinhos são umas falsianes (linguagem da internet), porque mesmo criticando o nosso “KKKKKKK”, eles – hoje – usam formas variadas da nossa velhice, porém menos eufórica. Segundo a BBC, a forma mais usada pelos ocidentais para expressar o riso é o “hahaha”, uma onomatopeia simbolizando o som do “rá” do riso. Como diz o meme, enfim, a hipocrisia.

De acordo com a geração TV Globinho, um dos maiores problemas com o “kkkkkk” (sem o Caps Lock), pode sinalizar uma ironia, o deboche e pode ofender o interlocutor. É difícil agradar vocês, viu? Seja como for, rir é sempre uma ótima atividade, seja com o face with tears of joy (emoji com lágrimas de alegria), com “KKKKKK” ou com um simples “hahaha”.

E ser cringe é uma coisa muito boa, esperem a vez de vocês. Esses jovens…KKKKKK.


por:

Luiz Felipe de Lima

• Historiador •

Formado pela Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro;

Professor de História e Sociologia;

Pesquisador.

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