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25/01/2024 – 09:19:29
André Luís A. Silva
O local onde atualmente se encontra edificada a cidade de São Paulo e toda sua região metropolitana já era habitado por povos indígenas das tribos Guaianás, Tupiniquins e Tupinambás, desde há muitos séculos. Contudo, a data oficial da criação da cidade é devido à realização de uma missão religiosa, comandada pelos padres jesuítas José de Anchieta e Manuel da Nóbrega, que fundaram no dia 25 de janeiro de 1554, o Colégio Real Jesuíta, no alto de uma colina, entre os rios Anhangabaú e Tamanduetei, com o propósito de catequizar os indígenas da região e construir um pequeno povoamento junto com colonos portugueses.
De acordo com o historiador Ubirajara Prestes Filho, inicialmente, o nome escolhido para o povoamento foi São Paulo dos Campos de Piratininga, pelo fato de que o dia 25 de janeiro, data da fundação do Colégio Real Jesuíta, coincidia com o dia do aniversário da conversão de Paulo de Tarso, o santo São Paulo. Já o nome Piratininga era como os indígenas chamavam os campos da região, que em Tupi Guarani significa peixe seco.
Os conflitos com os indígenas na região eram frequentes, e se acentuaram ainda mais no final do século XVI com a organização das primeiras bandeiras, ou seja, expedições patrocinadas pelo governo colonial que tinham como objetivo expandir a fronteira com a América Espanhola, avançando sobre o sertão em busca de riquezas minerais, principalmente, ouro e prata. Os bandeirantes, como eram chamados os comandantes destas expedições, também tinham como objetivo exterminar indígenas, capturá-los para serem escravizados e destruir quilombos que encontrassem pelo caminho. Agindo com extrema violência e intolerância sobre estes povos, os bandeirantes foram responsáveis diretos pelo extermínio de etnias indígenas, assim como pela opressão e massacre da população negra. Essa é uma mancha na história de São Paulo que, por incrível que pareça, batizou suas principais rodovias que ligam a cidade ao interior do Estado com o nome dos bandeirantes Fernão Dias, Raposo Tavares, Anhanguera, entre outros sertanistas homenageados devido à suas expedições realizadas na região.
Durante os XVI e XVII, o povoamento de São Paulo dos Campos de Piratininga pouco avançou, permanecendo um vilarejo pobre e isolado do centro da colônia. As famílias eram suprimidas com agricultura de subsistência, enquanto que a pequena vila era movida por uma tímida economia que girava em torno da criação de animais, exploração de minérios e comércio local. Foi somente a partir do ano de 1711 que o desenvolvimento do povoamento se acelerou, pois a vila de São Paulo dos Campos de Piratininga foi elevada à categoria de cidade, e passou a ser chamada apenas de São Paulo. Também, foi neste mesmo século que se iniciou o ciclo econômico da cana-de-açúcar, que rapidamente se estendeu por toda a região, sendo necessária a construção de uma nova estrada para escoamento da produção de açúcar e demais produtos. A Calçada de Lorena, como ficou conhecida a nova e moderna estrada, teve suas obras iniciadas a mando do governador-geral da Capitania, o senhor Bernardo José Maria de Lorena, no ano de 1790, e foi concluída apenas dois anos depois. A estrada possuía pouco mais de 50km, e nada mais era do que um caminho estreito feito de pedras, mas que permitia a travesseia da Serra do Mar e possibilitava o trânsito de tropas de muares entre São Paulo e o porto de Santos, no litoral.
De acordo com a historiadora Denise Mendes, a Calçada de Lorena acelerou o desenvolvimento populacional, econômico e político de São Paulo, que no ano de 1815 se tornou a capital da província. Em 1822, a cidade já possuía cerca de 23 mil habitantes e mais de 3 mil edificações. Foi no dia 07 de setembro deste mesmo ano que o Príncipe-Regente D. Pedro proclamou a Independência do Brasil, quando subia a Serra do Mar em direção a São Paulo, sendo este o primeiro grande episódio político da história da cidade.
Durante todo o passar do século XIX, a cidade de São Paulo ficou marcada por uma grande transformação arquitetônica, social, urbana, econômica e logística, impulsionada, principalmente, pela atividade cafeeira que atingiu grande escala de produção e foi responsável por movimentar uma parcela considerável da economia. Neste período, por exemplo, foram inaugurados os primeiros viadutos e avenidas da cidade, a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FDUSP), em 1827, sendo a primeira faculdade de direito do Brasil. No mesmo ano, foi criado o primeiro periódico impresso da província de São Paulo, intitulado O Farol Paulistano, pelo Marquês de Monte Alegre, e a primeira ferrovia paulista, que começou a operar no ano de 1867. Os primeiros grandes fluxos imigratórios chegaram em São Paulo na segunda metade do século, principalmente, de italianos, alemães, franceses, ingleses e japoneses, que se instalaram na cidade em busca de trabalho e aos poucos foram substituindo a mão de obra escrava, utilizada em grande escala nas lavouras de café. Em agosto de 1890, foi criada a Bolsa Livre, pelo negociante de capitais Emílio Pestana, que pode ser considerada o embrião da atual Bovespa, a Bolsa de Valores de São Paulo. Ainda neste século, também foi inaugurado o Museu do Ipiranga, em 1895, e o Instituto Butantan, no ano de 1899. Segundo o geógrafo Aroldo de Azevedo, a população da cidade de São Paulo, em 1900, era de aproximadamente 240 mil habitantes.
São Paulo entra para o século XX sendo uma das principais cidades brasileiras daquela época, a metrópole do café, como ficou conhecida, apresentava-se nacionalmente como uma das cidades mais promissoras do Brasil. A expansão da produção de café alavancou o investimento industrial, que rapidamente se expandiu pela cidade nas duas primeiras décadas. É bem verdade que a industrialização gerou muitos empregos, mas produziu uma acentuada exploração do trabalho e, em consequência disso, um fenômeno social até então inédito na cidade: a organização dos primeiros movimentos sindicais e greves, a mais expressiva delas ocorreu em 1917, quando operários da indústria têxtil e alimentícia paralisaram seus serviços junto com ferroviários e gráficos. Esta foi a primeira grande greve-geral realizada em São Paulo que se expandiria por outras cidades brasileiras. A luta operária dava seus primeiros passos no Brasil e alguns anos mais tarde colheria as suas primeiras vitórias.
A partir de então, a cidade de São Paulo se tornaria palco de uma série de eventos sociais, políticos e culturais que marcariam sua história. Em fevereiro de 1922, por exemplo, a cidade organizou a Semana de Arte Moderna no Teatro Municipal, uma tentativa em renovar a linguagem e a cultura artística, o que é considerado um marco na história da arte no Brasil. A cidade de São Paulo também já foi cenário de luta armada. No ano de 1924, entre os dias 5 e 28 de julho, aconteceu a Revolta Paulista, um conflito militar entre o Exército Brasileiro e um motim composto por militares (Tenentes) desordeiros e civis, que ocorreu próximo ao centro da cidade e deixou centenas de mortos e milhares de feridos. Em 1932, um conflito ainda mais sangrento aconteceu na cidade: a Revolução Constitucionalista, que engajou grande parte da população em uma guerra contra o governo provisório de Getúlio Vargas (1930 – 1934).
O desenvolvimento de São Paulo também está associado ao investimento em educação, cultura e lazer. Em 1934, a Universidade de São Paulo (USP) é fundada depois de uma junção de várias faculdades criadas desde o século XIX. Hoje, a USP é a maior e mais renomada universidade da América Latina, acomodando quase 100 mil alunos em vários campus distribuídos em oito municípios. No ano de 1947, é criado o Museu de Arte de São Paulo (MASP), por iniciativa do empresário e jornalista Assis Chateaubriand, no centro da cidade. Atualmente, o MASP é o museu mais visitado do Brasil e possuiu um acervo de mais de 10 mil peças, sendo pinturas, desenhos, fotografias, esculturas e roupas oriundos da cultura americana, africana, asiática e europeia. Em agosto de 1954, em comemoração ao quarto centenário da fundação da cidade de São Paulo, foi inaugurado o Parque Ibirapuera, com uma área de 158 hectares, que abriga museus, auditórios, trilhas, jardins, monumentos históricos e uma extensa região verde que pode ser considerada o pulmão de uma cidade já tomada por asfalto, concreto e aço.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 1960, São Paulo se tornou a cidade mais populosa do Brasil, com cerca de 3,7 milhões de habitantes. Nessa época, era comum São Paulo aparecer nas páginas dos periódicos como “A cidade que mais cresce no mundo”, o que, de fato, era uma realidade. O êxodo rural, as crises econômicas e os fluxos migratórios de nordestinos são as maiores causas do rápido crescimento demográfico de São Paulo no século XX, o que ordenou uma série de reformas urbanas e logísticas da cidade. Com efeito, foram projetadas e/ou reestruturadas inúmeras avenidas, marginais e rodovias para comportarem o trânsito cada vez mais intenso de veículos automotores. A cidade também foi dividida em zonas e foram criadas subprefeituras para auxiliar na resolução de problemas específicos de cada região. Em setembro de 1974, começou a operar o Metrô de São Paulo, incialmente, com apenas o trecho Jabaquara – Vila Mariana, hoje denominada Linha 1 – Azul. Nas décadas seguintes, o Metrô de São Paulo foi aumentando gradativamente seu tamanho e capacidade, ao mesmo tempo em que se modernizava. Atualmente, possui 6 linhas que totalizam pouco mais de 100km de extensão, pelas quais ligam 91 estações e transportam diariamente, em média, 5,3 milhões de pessoas.
A consolidação da nossa jovem democracia também passa pela cidade de São Paulo. Em 16 de abril de 1984, por exemplo, cerca de 1,5 milhão de pessoas se concentraram no Vale do Anhangabaú, onde aconteceu o comício de encerramento do movimento das Diretas Já, que tinha como objetivo a retomada de eleições diretas para o cargo de presidente da República, durante a ditadura militar.
Desde o final do século XX, São Paulo se tornou o principal centro financeiro da América Latina, representando, aproximadamente, 9,2% do PIB do Brasil. Atualmente, é uma das cidades mais populosas do mundo, com mais de 11,4 milhões de habitantes. É considerada uma cidade global, pois nela habitam pessoas de mais de 190 nacionalidades que compartilham seus hábitos e costumes. A elevada densidade demográfica também trouxe sérios problemas para São Paulo, como a logística de pessoas, extensos engarrafamentos, falta de moradia popular, poluição, aumento do consumo de drogas, violência e criminalidade. Apesar de ser a cidade mais rica e desenvolvida do Brasil, a concentração de renda e a desigualdade social são graves problemas em São Paulo, que possui uma grande população de rua e mais de 1.700 favelas, entre elas, Heliópolis e Paraisópolis, comunidades extremamente populosas, onde milhares de pessoas vivem sem infraestrutura básica, acesso a serviços públicos e sob condições desumanas e indignas.
O futuro guarda vários desafios para São Paulo, entre eles, o de se tornar uma cidade sustentável, inclusiva, mais segura, acolhedora e igualitária para todos e todas. Os desafios de São Paulo são grandes e imponentes, assim como sua própria história.