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14/10/2023 – 06:23:05
André Luís A. Silva
Em uma conferência realizada pela Unesco, em Paris, no ano de 1994, foi proclamado o dia 05 de outubro como o Dia Mundial dos Professores. Porém, a data que homenageia os docentes é celebrada em diferentes dias ao redor mundo.
No Brasil, a data adotada para a celebração é o dia 15 de outubro, pelo fato de que, foi neste dia, no ano de 1827, que o imperador D. Pedro I publicou o Decreto Imperial que criou o Ensino Elementar no Brasil. Em resumo, o decreto comunicava que todos as cidades, vilas e lugarejos deveriam ter suas próprias escolas, afirmava qual era o salário dos professores(as), as matérias básicas que deveriam ser lecionadas, e até o modo como os docentes deveriam ser contratados. Na época, dentro de um contexto no qual o Brasil era recém independente de Portugal, o projeto educacional era inovador e ousado. Entretanto, na prática, quase nada do que foi comunicado no Decreto Imperial foi cumprido nos anos seguintes.
O dia do professor(a) no Brasil começou a se tornar uma data popular somente após o ano de 1947, quando o professor Salomão Becker, que lecionava em um colégio de São Paulo, propôs aos pais dos alunos e aos seus colegas de trabalho a ideia de organizar um dia de parada para reverem seu planejamento, realizar reuniões e redefinir o rumo dos últimos dias que restavam do ano letivo. Portanto, o professor Salomão Becker sugeriu o dia 15 de outubro, e que esta parada se chamaria Dia do Professor(a). A data foi aceita pelos pais e pelos docentes, e se manteve como um encontro anual, espalhando-se rapidamente por outras cidades de diferentes regiões do Brasil. A partir de 1963, a data se tornou um feriado escolar, no intuito de homenagear os professores(as).
Internacionalmente, o Brasil é conhecido por alguns de seus ilustres professores e professoras que dedicaram suas vidas para que a educação fosse um direito de todos os brasileiros e brasileiras, aqui vale citar: Anísio Teixeira (1900 – 1971); Cecília Meireles (1901 – 1964); Darcy Ribeiro (1922 – 1997); Milton Santos (1926 – 2001); Rubem Alves (1933 – 2014); Lélia González (1935 – 1994); e Paulo Freire (1921 – 1997), educador premiado por inúmeras universidades no mundo inteiro, inclusive, pela Unesco, em 1986, com o prêmio Educação para a Paz. Anos mais tarde, em homenagem póstuma, foi nomeado oficialmente como o Patrono da Educação no Brasil, pela Lei nº 12.612 de 2012.
O fato é que toda homenagem neste dia é pouco para aqueles que se dedicam a educar, ensinar, compartilhar e a construir conhecimento. Talvez nem todas as pessoas um dia em suas vidas precisem de um engenheiro civil para projetar seu imóvel, de um advogado para representá-lo em um processo, ou de uma consulta no psiquiatra, mas todas estas profissões precisaram de um professor(a). Inclusive, se você está lendo este texto, lembre-se que também precisou deles.
O educador Paulo Freire enfatizou em Pedagogia da Autonomia, uma de suas últimas obras, que ser professor(a) é uma aposta para o futuro, uma vez que se educa um ser humano no presente para o futuro. Por esta razão, todo professor(a) é envolvido pela esperança. Ser professor(a) é entender seu aluno pelo olhar, é trabalhar com um grupo de pessoas, muitas vezes, instáveis e resistentes ao conhecimento, mas sem deixar de acreditar que, a partir deles, é que pode surgir um mundo melhor. Ser professor(a) é entender que se continuarmos acumulando cada vez mais poder, e não conhecimento, certamente, não teremos futuro. Portanto, pode-se afirmar que os professores(as) praticam um exercício de esperança constante, pois, ser professor(a) é trabalhar com o amanhã, com o florescimento de novos indivíduos cada vez mais capazes, mais confiantes, mais visionários e mais prudentes.
Paulo Freire também acreditava que uma das maiores virtudes de um professor(a) era a sua vontade de transformar o mundo, pois, sua vocação implica em mudar tudo aquilo que ele vê e não gosta, que vê e não concorda, que vê e sente repulsa. Por isso, os professores(as) além de educar, também ensinam, constroem conhecimento com seus alunos e, assim, juntos projetam o futuro da sociedade, de seu país. O educador nos lembra que o professor(a) deve ser a transformação que ele deseja ver no mundo, e isso quer dizer que ele não tem poder de transformar a educação como um todo, mas pode fazer uma grande diferença em sua sala de aula para/com seus alunos.
Assim como em todas as profissões, a momentos de desanimo e pessimismo. Neste sentido, concordo com o professor e historiador Leandro Karnal, quando em seu pequeno livro intitulado Conversas com um Jovem Professor, afirma que o professor(a) é alimentado com doses de animo e amor pelos seus próprios alunos, diariamente, quando percebe seus progressos, ainda que tímidos, quando desperta a curiosidade nas crianças e jovens, quando sente que sua aula se tornou mais atrativa que o conteúdo do celular, ou quando anos mais tarde, por um acaso da vida, reencontra aquele aluno que nem lembrava mais, agora formado, um cidadão.
Assim como os alunos, os professores(as) também estão em constante transformação. São seres adaptáveis e maleáveis a cada nova escola que trabalham e a cada nova turma que lecionam. Há quem acredite que um professor(a) só trabalha de segunda a sexta-feira, mas a verdade é que o seu trabalho, muitas das vezes, estende-se para os sábados, domingos e feriados, enclausurados em casa, corrigindo atividades e provas, preparando aulas e reorganizando seu planejamento escolar. A verdade é que os professores(as) encaram salas de aula lotadas, sem estrutura, com alunos com dificuldades cognitivas e emocionais. Muitas vezes, os professores(as) tiram dinheiro do próprio bolso para comprar seus materiais básicos de trabalho. O pouco que ganham, investem constantemente em atualizações profissionais. A docência, muitas vezes, é feita sem apoio, sem recursos, sem reconhecimento.
Qualquer político que prometa que resolverá todos os problemas da educação em seu mandato estará mentindo, pelo fato de que a resolução dos inúmeros imbróglios educacionais não se resolve no curto prazo, mas, pelo contrário, demandam por vários projetos dedicados a cada área, setor, região, de médio e longo prazo, com metas e objetivos a serem cumpridos, talvez, dentro de décadas. Valorizar o professor(a) é somente um destes imbróglios, que não se resolve somente com aumento de salário, mas quando se constroem novas escolas, que depois são equipadas com laboratórios, ferramentas de trabalho e funcionários especializados, quando se reduzir o número de alunos em cada sala de aula, quando a merenda escolar é preparada com produtos de qualidade e servida com amor, quando se aumenta o tempo de permanência dos alunos dentro da escola, principalmente, seu contato com a arte, cultura, política e tecnologias. O professor(a) é valorizado quando toda a comunidade escolar participa das ações da escola e são envolvidos por ela. Quando se valoriza a ciência e não as teorias da conspiração, quando se valoriza os livros e não as armas, quando se valoriza a diversidade e não a intolerância, quando se valoriza a democracia e a livre expressão, frente ao autoritarismo e a censura.
O investimento na educação e a valorização do professor(a) é uma pequena semente plantada no presente para se tornar uma enorme colheita no futuro. É um gesto para a próxima geração.