Foto: Divulgação/Assessoria
16/11/2021 – 07:25:05
Luiz Felipe de Lima
Estava eu querendo variar um pouco as playlists, fugindo do Queen, dos The Beatles, do Pink Floyd e o streaming me ofereceu Marília. Uma playlist com certa empolgação para uma sexta-feira à tarde, ainda que estivesse mal em virtude de uma crise de sinusite e que, curiosamente, fosse uma sexta parecida com aquela em que ela se foi. Estava eu na sexta passada ouvindo a mesma playlist com Queen quando uma amiga me mandou uma mensagem no WhatsApp “você viu que a Marília Mendonça morreu?”. Parei o que estava fazendo e corri para os sites de notícia e lá estavam estampadas as manchetes naquela sexta-feira, 5 de novembro. Sexta, 12 de novembro, ouvi umas quatro ou cinco músicas, saí do escritório e fui para casa e, ao chegar, continuei a ouvir aquela playlist e pensando no golpe fatal da vida que tirou Marília do país inteiro com apenas 26 anos, com família, filho e uma legião de fãs, sejam antigos ou novos…como eu.
Quem me conhece, sabe que o chamado “sertanejo universitário” não é o meu estilo musical favorito, mas acabo escutando. Embora seja músico, estou longe de ser o expert ou o crítico de música para dizer isso é bom ou aquilo é ruim. E no caso das músicas de Marília, hoje me vi pegando o violão e indo aprender a tocar cada uma das quatro ou cinco músicas dela que ouvi.
Depois, resolvi assistir aos clipes daquelas músicas e em cada estrofe que ela cantava, era uma multidão cantando atrás, diversas mulheres e homens, alguns até chorando. “Bem pior que eu, você…” e ela traduziu o que muita gente sempre sentiu, viveu e chorou em uma música que tem uma riqueza harmônica que poucas vezes me chamaram a atenção.
A morte nunca é fácil de aceitar e nem tem que ser, porque ainda é um processo que 99% da população não compreende como algo natural, mas quando é uma tragédia que anuncia a morte, o choque em toda a sociedade é inevitável. Quando a vida de uma jovem cantora, mais jovem do que eu – diga-se de passagem – é interrompida de forma tão brusca, todos nós acabamos sendo impactados de uma forma ou outra. Mas pessoas morrem todos os dias e nós não sentimos nada desse impacto, por quê? Essa é a pergunta que muitos fiscais da dor alheia fazem na internet. Tanto a morte quanto a dor têm sido tão banalizadas, que as pessoas acabam confundindo as coisas e em um universo que só tem razão e sentido na cabeça de meia dúzia de desmiolados, é como se a morte de outras pessoas não tivesse importância. Ora, é claro que tem. Porém, quando se trata de alguém que cumpria a missão – com profissionalismo – de emocionar com a arte, essa emoção acaba se espalhando e um país inteiro sente.
Durante toda a tarde sábado acompanhei pela TV o funeral e o cortejo emocionante de Marília, com seus amigos ao seu lado o tempo todo. Aquele era o retrato do quanto Marília, com apenas 26 anos, já havia feito muito por tanta gente com a sua música. A maior expressão de um artista é quando seu trabalho toca o âmago das pessoas; “Bem Pior Que Eu” conectou Marília a centenas de milhares de mulheres, mulheres que se ouviram na voz e nos sentimentos de Marília Mendonça. Em um cenário musical ainda muito dominado pelos homens, Marília se destacou e abriu caminho para que outras mulheres também ocupassem o lugar que lhes é de direito. Esse país sempre teve cantoras icônicas como Roberta Miranda, Elis Regina, Maysa, Zélia, Cássia e aí chegou Marília, que aos 12 anos já tinha feito a primeira música e com 26 era ídola em todo o Brasil.
O simbolismo que nos é revelado com a morte precoce de Marília Mendonça é o de uma porção gigante de fãs órfãos, é como se tivessem (tivéssemos) perdido alguém próximo, da nossa família. Marília deu um basta na versão única das histórias do cotidiano que viravam música como a traição, o sofrimento e que eram contados e cantados apenas por homens. Virou um símbolo para crianças, adolescentes e para senhoras de 65 anos. No fim, tudo mudou por meio de sua música, todo mundo cantou, bebeu, chorou e mandou uma mensagem enquanto estava bêbado no meio do bar para a pessoa que não devia enquanto era embalado por Marília Mendonça e sua voz potente.
No fim, todo mundo sofreu, Marília.
• Historiador •
Formado pela Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro;
Professor de História e Sociologia;
Pesquisador.
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